Lá se foi o ano de 2011 e para alguns, as férias merecidas começaram em dezembro, outros em janeiro. Nada melhor, portanto, do que colocar a leitura em dia. Baseado no meu trabalho de conclusão de curso de 2010 resolvi indicar duas boas leituras para as férias. No entanto, é importante contextualizar o período em que foram confeccionadas, facilitando o entendimento do porquê dessas obras e quais eram seus objetivos.
No século XIV — período de crise para Igreja medieval, principalmente pelo Cisma do Ocidente, onde a Cristandade se viu diante de dois papas, um em Roma, e outro em Avignon e, além disso, na Inglaterra, a Guerra dos Cem Anos — a Igreja era vista com descrença tanto pelo afastamento dos clérigos para com os fiéis, principalmente os mais humildes, no período da Peste Negra, quanto pela vida mundana que parte dos religiosos levavam.
Mediante a ação propagandista que as Ordens Mendicantes efetuavam, tanto na Inglaterra quanto em outras regiões da Europa, o cristianismo começou a tornar-se uma religião mais “popular”, o que deixara de ser há muitos séculos, desde os primeiros anos da era cristã, e aos poucos foi se revelando ao povo laico um certo número de preceitos que lhe eram até então inacessíveis.
Imersas nesse período conturbado, duas obras produzidas no século XIV contribuem para a busca de nuances sobre essa época: A Nuvem do Não-Saber e Os Contos da Cantuária, ambas do século XIV inglês.
A primeira, escrita na segunda metade do século XIV por um monge inglês desconhecido, provavelmente da Ordem dos Cartuxos e a segunda de Geoffrey Chaucer, uma coleção de contos escritos a partir de 1387, muito rica em personagens da sociedade medieval; além de revelar acontecimentos curiosos, passagens pitorescas, citações clássicas, ensinamentos morais, relacionados à vida, nos ajuda a compreender os costumes do século XIV na Inglaterra.
Contos da Cantuária, ficcional e recheada de contos, nos relata uma romaria de vinte e nove peregrinos, no qual se inclui o próprio autor, rumo à cidade da Cantuária para a visita ao túmulo de Santo Tomás Beckett, com passagens, até certo ponto, com uma carga de humor, Chaucer trata de problemas como a vida mundana do clero, as traições dos casais, os excessos da sociedade, dentre outros. Vale a pena conferir. A obra tem 302 páginas e pode se encontradas em sebos.
Já A Nuvem do Não-Saber exige uma atenção maior em sua leitura, com uma linguagem própria dos monges da épocam está inserida mais na área de ensinamentos, ou melhor, doutrinamentos sobre a contemplação do que propriamente um livro de histórias, portanto, é uma obra para refletir. Religioso ou não, o leitor desta obra pode buscar respostas e questionamentos sobre determinados pensamentos em relação a Deus e a como se dirigir a este.
Além disso, o livro pode dar respostas a quem procura um ponto de contato com o modo de orar proposto pelo autor anônimo e as técnicas orientais de meditação, como a yoga e o zazen. Algumas das indicações podem servir para o nosso dia-a-dia, embora eu seja constantemente criticado por acreditar nisto, principalmente porque a obra dizia respeito a um determinado período.
Ainda assim inspirou e ainda inspira uma série de autores. Indico a edição da Editora Vozes, a da outra editora é inconcisa e cheia de erros. O livro tem 188 páginas e pode ser facilmente adquirido em livrarias ou pela internet.
Se realmente alguém se aventurar, é importante, como já citei, compreender esse período tão conturbado em que as obras foram feitas, vai contribuir para o entendimento em si dos livros. Boa leitura!