Docente da UniFAI lança segundo livro sobre escritor peruano Mario Vargas Llosa

O professor dos cursos de História e Pedagogia do Centro Universitário de Adamantina (UniFAI), Mateus Barroso Sacoman, lançou para venda, no último dia 15, um livro de atualização da pesquisa de mestrado sobre o escritor e intelectual peruano Mario Vargas Llosa. A primeira edição havia sido publicada em 2016.

Disponível no site da Editora Alexa Cultural (www.alexaloja.com) e nas grandes livrarias do país, a obra “As transfigurações da sociedade peruana e a distorção convulsiva de Mario Vargas Llosa: uma análise das décadas de 1950 e 1960” pode ser adquirida no formato impresso ou digital.

Segunda obra publicada por Mateus Sacoman sobre escritor peruano possui informações atualizadas e mais completas em relação à anterior

Conforme detalha o autor, o livro analisa os primeiros romances de Llosa e a conexão que estabelecem com o contexto das décadas de 1950 e 1960 no Peru.

“Especialmente, verificando os impactos culturais, sociais e econômicos com a chegada de um grande número de migrantes da região da serra para costa, principalmente na cidade de Lima. O livro aborda, ainda, uma análise mais aprofundada em relação a uma possível reconfiguração ou transformação do conceito e da forma de se entender quem são os criollos e sua cultura naquele contexto”, explica.

O professor comenta sobre as vantagens do segundo livro a respeito de Llosa: “Esta obra traz informações atualizadas e mais completas em relação à anterior. Além disso, é muito mais acessível ao público brasileiro, principalmente quanto ao preço”.

A obra também é abrilhantada com o prefácio do Prof. Dr. Marcos Sorrilha Pinheiro, do Departamento de História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), grande amigo e orientador da pesquisa de mestrado do autor.

De acordo com Sacoman, no segundo semestre há previsão de projeto para a publicação de um livro, provavelmente pela mesma editora, com textos sobre História, conectados às habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “O objetivo é auxiliar os professores da Educação Básica em seu trabalho na sala de aula”, finaliza.

por Priscila Caldeira – UniFAI

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Gregos, Macedônios e Persas: na disputa por territórios quem ganhou foi a Cultura

A Grécia, após um período de prosperidade e predomínio sobre a região, enfrentava conflitos internos, o que a tornou vulnerável. A Guerra do Peloponeso, entre as duas principais Póleis gregas (Atenas e Esparta), oportunizou o restabelecimento dos persas sobre os territórios da Ásia Menor, então dominados pelos gregos.

Esse contexto também permitiu que o rei Filipe II, com seu filho Alexandre III, desse início ao seu projeto de ampliação das fronteiras da Macedônia. Vencedor, na Batalha da Queronéia, em 338 a.C., o rei Filipe II buscou aliados entre os povos conquistados, solicitando impostos e o direito de ser reconhecido também como um grego, aproveitando para anunciar que iria seguir contra o Império Persa e recuperar a Ásia Menor.

Nessa ocasião, Alexandre III tinha apenas 18 anos de idade e já era o líder do batalhão que venceu Tebas. Dois anos depois, o rei Filipe II foi assassinado e seu filho assumiu o trono.

Para manter a ordem e o poder, Alexandre III foi duro com quem questionou o seu direito e seguiu os planos do seu pai, enfrentando por 10 anos os persas e se saindo vencedor. O Império Aquemênida (550 a 330 a.E.C), ou Império Persa, era governado em 20 unidades que deveriam se reportar ao rei, e por ser composto por diferentes povos tinha um método de organização que depois seria aproveitado por Alexandre Magno.

Desde Ciro, ao se dominar um povo, negociava-se o respeito e a tolerância cultural/religiosa pela aliança e pelos impostos. Outra estratégia era facilitar a comunicação, com a construção de estradas e um ágil sistema de correios, que também facilitaram o comércio. Nesse último aspecto a unificação da moeda foi uma importante estratégia de Dário I (550 a.C. a 486 a.C.), que criou a dárico. Por toda essa dimensão, a conquista da Macedônia sobre esse povo foi extraordinária.

Depois de incorporar o domínio persa, Alexandre III seguiu para a Índia, mas teve que recuar, respeitando as limitações do seu exército. Na sequência, Alexandre acabou morrendo e não pode expandir ainda mais suas fronteiras como desejava. O seu Império se desmanchou na disputa sucessória, mas seus feitos foram mantidos através das lendas que se espalharam na Ásia, África e Europa, e nas letras de músicas, nos filmes e nas animações, que mesmo na Era Contemporânea continuam sendo feitos. Entre os legados do Império Macedônico está a cultura helenística, que surgiu do estímulo à diversidade
cultural e do patrocínio de estudos sobre territórios e culturas anexadas.

Fonte: Elaborado especialmente para o Material de Apoio ao Currículo Paulista.

Entre a consciência histórica e a amnésia coletiva

A grave tragédia recente do incêndio no Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, resgatou o debate – já há muito tempo esquecido pela mídia nacional e por nós mesmos – sobre a importância em se preservar a história brasileira e em conhecê-la.

Em meio à preparação para lecionar Teoria e Historiografia na universidade, vinha pensando muito sobre como transmitir de forma simples aos meus alunos a relevância de um povo ou indivíduo conhecer o seu passado na tentativa de entender quem de fato ele é, empenhando-se em compreender todo o caminho percorrido até aqui.

Para além da tão famosa frase: “conhecer os erros do passado para não repeti-los” (próximo ao que o espanhol George Santayana escreveu no início do século XX da necessidade de se conhecer o passado para não reproduzi-lo), desconhecer a trajetória de milhares de populações espalhadas pelo planeta e como elas se estruturaram pode resultar em uma desconexão com as raízes e uma despreocupação com tudo o que já foi realizado para que hoje tivéssemos nossa atual configuração social.

Reconhecer o que efetivamente é positivo e os grandes elementos negativos que ainda compõem a nossa vida, passa pela percepção do que a humanidade já produziu. E é o historiador quem se encarrega de acessar essa produção e analisá-la em conjunto com outras áreas do saber.

Dentro desse panorama, o primeiro aspecto é a valorização da História enquanto ciência que se dedica a conhecer as ações dos homens ao longo do tempo. Posteriormente, é reconhecer que o seu papel não é exatamente apostolar, mas apresentar as várias compreensões dos fatos históricos após indaga-los, investiga-los. Essas compreensões são frutos de contextos específicos e de aspectos particulares de quem as produziu. E é nessa diversidade que reside a magnitude da História.

Porém, é preciso enfatizar que após anos de divergências e oposições, as garantias de vida e à liberdade, o direito ao trabalho e à educação, à liberdade de opinião e de expressão, dentre tantos outros, não podem ser simplesmente destruídos e não mais garantidos (ou cessar os enfrentamentos para que toda a humanidade tenha acesso a eles).

As perguntas que fazemos ao passado são fruto de nossas inquietações presentes. Interpretar e absorver esse passado nos leva a compor o quadro atual de nosso mundo, reconhecendo as diversas manifestações humanas que contribuíram ou não na tentativa de uma composição menos aflitiva e mais pacífica. Aproximando-nos de nossos antepassados, de suas imperfeições e exatidões, reconhecendo-nos neles.

Por isso, também, a importância de se registrar nossos passos, apresentar perspectivas e desenvolver análises sérias e científicas. Visando disponibilizar material suficiente para conhecermos nossa caminhada até chegar ao presente e entender porque chegamos até ele desse modo e não de outro.

Porém, o grande problema reside em, no futuro, saber reconhecer a importância desse material do passado. Se isso não acontecer, de nada adianta os registros. Se uma sociedade não souber reconhecer ou, então, não dispor de meios que ajudem nesse reconhecimento da relevância histórica, as consequências podem ser tenebrosas. Se plantarmos algo ruim aqui, neste exato momento, a colheita futura pode não vingar. Ou, em uma hipótese catastrófica, colheremos algo extremamente ruim.

Esquerda e direita: autoanalisar para agir

A Revolução Francesa, em 1789, com seus ideais de “liberdade, igualde e fraternidade” nos legou uma divisão diametral do universo político: direita e esquerda. Apoiadores do rei à direita do presidente da Assembleia Nacional e defensores da revolução à esquerda.

Porém, no mundo atual, diversificado e interligado, é preciso uma reavaliação da compreensão de esquerda e direita, assim como do seu funcionamento. Essa demanda, já há algum tempo vem rendendo bons frutos, porém é um poço de água que nunca finda.

Há intelectuais que insistem que esse espectro político não é mais útil. Para outros, entretanto, há raízes profundas, mas que produzem conjuntos variados dentro dessa classificação tão tradicional, ou seja, não há apenas uma direita e uma esquerda, mas multíplices. Um “terceiro termo”, como dizia Marcel Gauchet também não está excluído, temos, então, o chamado centro (que nem sempre é constante).

Para além de trabalharmos as numerosas definições, exclusões e complementariedades dos conceitos neste pequeno texto, a intenção é intuir que esquerda e direita precisam ser reanalisadas levando-se em consideração as diversas culturas políticas existentes em cada comunidade. Se essas são múltiplas, há, portanto, múltiplas formas de pensar dentro da esquerda e direita. Para então, a partir daí, entenderem qual o papel a ser desempenhado em benefício da população.

Contudo, as raízes profundas podem ser vislumbradas nos temas igualdade/desigualdade, inclusão/exclusão, liberdade/limitação, mudança/permanência, pois são constâncias no cerne de debates sobre a definição do papel dos “lados políticos”.

Um dos principais dificultadores dessa questão é que os elementos citados acima são concebidos de formas diferentes pelos mais distintos grupos, em contextos e localidades díspares. Por exemplo, a definição de igualdade para você pode não ser a mesma para um indígena no norte do país ou para uma mulher islandesa. Norberto Bobbio já nos indicou: “Igualdade sim, mas entre quem, em relação a que e com base em quais critérios?”.

Não é um tópico simples e não será resolvido aqui. Todavia, uma das muitas chaves para o entendimento desse emaranhado político é voltar-se aos específicos contextos e, com isso, às necessidades elencadas por cada povo a seu próprio lugar. Esquerda, direita, centro, reconfiguram-se a todo o momento. As culturas políticas são enriquecidas e ressiginificadas, do individual penetra-se ao coletivo. As faces políticas precisam responder às novas pautas que surgem a cada dia.

O entendimento de que não devem se anular, mas coexistir, ainda mais em um contexto democrático, é um ponto de partida essencial. Tal como fez Ernst Jünger ao comparar esquerda e direita às partes do corpo, citando o exemplo das mãos. “Ambas são indispensáveis. É óbvio que cada uma delas existe em função da outra. Deste ponto de vista, portanto, direita e esquerda são igualmente necessárias”.

Deixando um pouco de lado a contenda intelectual, talvez, para países em que a política passe por momentos de descrença, seja importante que os partidos, independente da ideologia seguida, comecem a entender que não há problemas exclusivos da esquerda, centro ou direita, mas obstáculos comuns que precisam ser superados de formas democráticas.

O que, obviamente, diferirá é a forma de lidar com as dificuldades e a maneira de agir para que elas sejam resolvidas, mas não é possível virar as costas. A busca de uma sociedade mais estável deve ser constante e está relacionada a um entendimento de humanidade.

É preciso garantir oportunidades para que o indivíduo, independente do seu gênero, desenvolva-se através dos mais variados meios buscando como finalidade uma configuração com menos violência e corrupção, com um sistema de saúde e educação desenvolvidos, além de uma economia fortalecida que propicie renda capaz de satisfazer as necessidades substanciais. Assegurando, também, margem para que os seres humanos busquem alterar o seu arquétipo de vida, se assim desejarem.

Andes: se as montanhas pudessem falar…

“Se as montanhas pudessem falar, elas nos contariam uma história…” a frase anterior, adaptada, pertence à letra de If a mountain could talk da banda alemã Helloween. Ao longo da composição, escrita por Markus Grosskopf, é possível depreender a relação entre os seres humanos e a natureza, o quão irresponsável tratamos a terra e como reagiriam as montanhas e os oceanos ao nosso comportamento, em inúmeras vezes, irracional.

A canção ainda traz sentenças como “por lucro vendemos nossas almas”, “nós semeamos desastre, a confusão está completa” e “os recursos logo serão consumidos”. E foram justamente essas fortes palavras que levaram a um pensamento: E se os Andes pudessem falar? Que histórias contariam?

Obviamente, em uma pequena reflexão como esta, a ideia não é propor o que Fernand Braudel fez de forma virtuosa com o mar Mediterrâneo, ao abordar um conjunto de narrativas da história espanhola do século XVI, estabelecendo um novo paradigma à ciência histórica, mas sondar de forma despretensiosa alguns elementos que compõem o enredo das ações dos homens ao longo do tempo na região sul-americana.

Maior cordilheira do mundo em comprimento, a denominação “Andes” contém diversos significados. Entre eles, uma origem aymara espanholizada referindo-se a “montanha que se ilumina”. Há também uma relação com a palavra quíchua Anti, significando “crista elevada”. Por fim, uma acepção derivada também da etimologia quíchua, Antisuyu, uma das quatro partes do império dos incas, com o vocábulo Suyu sendo uma referência à cadeia montanhosa em questão.

A própria origem do nome ajuda a entender um pouco das histórias que, muito provavelmente, os Andes contariam. Sem uma exatidão, a chegada dos primeiros homens vindos de terras distantes, quem sabe há 50 mil anos, vagarosamente, seria o ponto de partida. Navegando em canoas primitivas ou andando desde Behring, foram chegando em face a dimensão colossal daquela barreira natural.

Aos poucos foram se organizando. E o que não era nomeado, passou a ser. Carao, Chavín, Valdívia, Moche, Tiwanaku, Nazca, Chachapoyas, Wari, culturas arqueológicas floresceram, próximas ou distantes, mas sempre visíveis aos olhos das montanhas. Produzindo cerâmicas, aquedutos, têxteis e geoglifos, relacionando-se com suas divindades, guerreando e dominando, nada escapou às cordilheiras.

Garantiam a agricultura nas menores altitudes, forneciam água do degelo de suas geleiras e o tempo – senhor de tudo – foi passando. As riquezas da serrania eram eduzidas aos montes. Brilhando ou não, aguçavam os sentimentos mais vis nas populações ao redor.

Chimús, Muíscas e Incas, do extremo norte ao sul, frutificaram, evoluíram. Resultado de uma miríade de civilizações andinas, o povo Tawantinsuyu tornou-se o maior e mais desenvolvido império já visto por aquelas bandas. Porém, à procura da região da cadeia irmã, novos habitantes surgiram. Toparam com os titãs da parte sul que viriam a chamar de América. E o que era mito e antes homem – Manoa del Dorado – passou a ser fantasiado como localidade e transfigurou-se em El Dorado.

A partir daí, a exploração que já existia, radicalizou-se. Porém, enquanto interlocutor, essa é uma história a ser contada em uma outra ocasião

Política no Brasil: cataclismo distorcivo coletivo

Corrupção, segundo o mais tradicional dicionário on-line da Língua Portuguesa*, é o ato ou efeito de corromper ou de se corromper. Pode significar também o comportamento desonesto, fraudulento ou ilegal que implica a troca de dinheiro, valores ou serviços em proveito próprio. Ou, ainda, degradação moral.

Porém, há um significado mais antigo, voltado para os aspectos da deterioração física de uma substância ou matéria orgânica que basicamente indicamos por apodrecimento ou putrefação. Embora as definições apresentadas inicialmente pareçam mais compatíveis com a atualidade da política brasileira, a acepção citada neste parágrafo é a que nos seduz.

Sim, a sociedade brasileira, no campo político, está anômica e apodrecendo pouco a pouco. Um processo iniciado há muitos séculos atrás, é verdade. Dizer que os políticos são todos corruptos e que estamos atolados em uma lama praticamente impossível de sair já não assusta mais.

Porém, a sociedade brasileira não vive um contexto à parte. Estamos enlameados, patinando e cavando um buraco cada vez mais fundo. Nas apreciações desenvolvidas sobre os aspectos políticos da terra da ibirapitanga é lugar comum criticar nossos governantes, imputando-lhes todos os tipos de adjetivos e indecências, mas excluindo o “povo” como se não fossemos merecedores de tais elogios.

Até quando as velhas máximas aparecem: “somos nós que os colocamos lá”, a análise parece desconectada de que o país, em muitos cenários, é deteriorado. Não são somente os estadistas, somos nós, indivíduos no pleno gozo dos direitos civis e políticos de um estado livre, mas não livre dos desarranjos, desmandos e desvirtudes.

Se o nosso contexto político vai mal, então vamos todos mal. Assim, se é necessário tornar a política mais limpa, embora manchas sempre hão de aparecer, precisamos nos desinfetar primeiro. É indispensável nos reconhecer dentro da política. Somos integralmente conectados a ela em um processo eterno de reciprocidade.

O brasileiro precisa reflexionar em termos de cultura política, ou seja, um conjunto de atitudes, valores, normas e crenças que são compartilhados por uma determinada sociedade, que obviamente inclui as instituições políticas, mas não somente os tópicos relacionados a ela. Talvez aí resida o ponto chave da mudança tão procurada.

Em meio a esse cataclismo distorcivo coletivo, ou seja, imersos nesse desastre social que se deforma e desvirtua-se, é preciso uma transmutação de nossas atitudes cotidianas viciadas, deturpadas, contaminadas pelo monstro da corrupção. Antes de mudar os rumos da política no Brasil, precisamos mudar a nós mesmos. Ou agimos assim, ou daqui a cem anos ainda estaremos letárgicos.

* “Corrupção”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/corrup%C3%A7%C3%A3o [consultado em 10-03-2018].

Opinar ou não opinar? Eis a questão!

Não resta dúvida que as redes sociais ganharam importância em nossa sociedade e o número de usuários aumenta a cada dia. Mais pessoas interligadas, expressando e compartilhando suas opiniões, versando sobre os mais variados temas, gerando debates nessas redes ou, ao menos, desenvolvendo um debate interno para quem lê ou compartilha determinado assunto.

Essas discussões são de grande importância, nos ajudam a desenvolver, aprimorar ou rever nossos conceitos, mediante opiniões contrárias ou favoráveis, ajudando no respeito à liberdade de pensamento, expressão e na compreensão da diversidade e direitos do próximo.

No entanto, opinar sobre os mais diferentes temas nem sempre é visto com bons olhos. Para alguns, soa como uma forma de descrédito. Como poderia alguém falar de determinado assunto em que ela não tem a experiência necessária?

Por exemplo, é muito comum em fóruns on-line sobre futebol encontrar críticas sobre opiniões emitidas simplesmente pelo fato do usuário não ser técnico de futebol ou coisas semelhantes; ou em fóruns sobre política, por não ser candidato ou político.

Algo semelhante aconteceu com os intelectuais nas emissões de opinião. Por exemplo, até o boom literário latino-americano (movimento literário que perdurou pelas décadas de 1960 e 1970), o intelectual intervinha em diversas áreas e assuntos.

Não obstante, depois da redemocratização (“aberturas políticas” ocorridas entre 1979 e primeiros anos da década de 1990) passou a intervir apenas sobre um determinado assunto, pontual, voltando-se apenas para a sua especialidade: ou é crítico literário ou é crítico político, mas nunca os dois.

Essa questão intelectual envolve muito mais do que simplesmente “emitir opiniões” sobre um assunto e demanda muito tempo e discussão. Mas, voltando para as redes sociais, esse descrédito pode minar uma das principais funções dessa estrutura social, que é a disseminação de opinião e a criação de debates ou sub-debates em volta do tema discutido.

Logicamente, não se trata de emitir opinião sobre como fazer uma cirurgia por alguém que não é médico. Aliás, isso é na verdade antiético e nenhum profissional dessa ou de outra área deve comentar sobre assuntos como esse.

Contudo, como um cidadão que busca um país melhor pode contribuir de fato, pode escolher um bom candidato para votar, se ele não pode opinar sobre a saúde, economia, corrupção, mesmo que seja uma opinião baseada no cotidiano (a propósito, respeito muito esse tipo de opinião, muitas vezes mais sábia do que a de muito intelectual por aí).

É comum encontrar pessoas que não respeitam opiniões de indivíduos que não são especialistas, mas depois cobram da população o porquê de não pressionar o governo para isso ou aquilo, cobram a participação no debate de assuntos importantes para a nação, o porquê de não reagir veementemente contra a corrupção, etc.

Para além de uma defesa do direito de se expressar e, claro, assumir as responsabilidades daquilo que se escreve, é muito prejudicial que essa possibilidade de opinar nas redes sociais, na vida, na literatura, venha a se sentir acuada e permaneça retraída por medo das retaliações que possa sofrer.

É importante refletir sobre isso e tentar contribuir para uma mudança. Ou então, estaremos perdendo um importante meio de opinar e, porque não, de nos expressar como cidadãos ou apenas como “comentarista” de qualquer assunto que seja de interesse próprio.

Escrever para tablets banalizará literatura?

Há mais de um mês o escritor Mario Vargas Llosa num debate realizado pela Biblioteca Nacional da Espanha com o jornalista espanhol Sergio Vila-Sanjuán, em homenagem aos 300 anos da instituição, afirmou na sua intervenção no ciclo “El libro como universo” que, escrever para tablets, pode resultar em uma banalização da literatura, contribuindo para que esta se torne uma futilidade.

Confesso que esperei certo tempo para “sentir” a repercussão desta afirmação e refletir sobre esse assunto, principalmente na mídia especializada e com pessoas que realmente conhecem o trabalho do escritor. Em geral, foi bem recebida, embora alguns blogs (que nem merecem ser citados) destacaram, erroneamente, que Vargas Llosa disse bobagem. Talvez porque tenham pouco contato com as reais intenções do peruano ou tenham se dedicado apenas às leituras de seus romances, sem considerar suas outras grandiosas obras em outros gêneros e seus pensamentos.

Primeiramente, mais do que questionar ou julgar o escritor, deve-se compreender que Vargas Llosa há anos, (ou, quem sabe, desde quando começou a escrever) trava uma batalha digna contra a transformação da literatura em mero entretenimento, a serviço apenas da diversão. Ela é mais que isso, ela tem responsabilidades, ou melhor, quem a escreve, e pode contribuir muito com os problemas e questionamentos de seu tempo sem perder estética.

Portanto, pode, de fato, contribuir em algo para a sociedade. Assim pensa o escritor e assim devemos levar em conta esse “contexto” para então buscar um entendimento do porquê desse temor da banalização.

Diversos veículos de comunicação noticiaram que o autor baseava seu ponto de vista no que a televisão se tornou; em suas palavras:

“Por que a televisão banalizou tanto os conteúdos, quando é um instrumento extraordinário para chegar a grandes públicos, mas foi incapaz de se transformar em um transmissor de grandes idéias, de grande arte ou literatura?”.

A televisão “não chegou a lugar algum, porque aponta ao mais baixo para chegar ao maior número de pessoas”. Embora para Vargas Llosa existam boas séries televisivas, “ler (Marcel) Proust ou (James) Joyce não é o mesmo que assistir a uma série!”.

Entretanto, mais do que se basear no que a televisão se tornou, e ele tem toda razão (basta ligar na “tv aberta” durante os domingos), o escritor carrega consigo toda a sua convicção de “escritor engajado” e toda sua crença de uma literatura muito além do entretenimento, aliás, não só a literatura mas as diversas maneiras de expressões culturais.

De forma alguma Vargas Llosa afirma que escrever para tablets, ou escrever para livros eletrônicos já é uma ação que vulgarizou, no sentido banal, a literatura. Ele apenas alerta para um temor seu; e isso é muito válido.

Muitos críticos, não só no Brasil, costumam colocar “o carro a frente dos bois” e introduzir palavras que não foram ditas ou até mesmo escandalizar sobre um assunto que é muito natural. Deveriam enxergar essa posição do escritor peruano como um alerta e um chamado para o debate de qual literatura se deseja para o futuro, no que ela se tornará.

É interessante, pois, pensar no assunto, discutir e propor saídas para escapar desta banalização, pois quer queira ou quer não, pode ocorrer; aproveitando-se assim de todas as tecnologias disponíveis e ao invés de tornar a literatura uma futilidade, torná-la mais acessível e atraente para um maior número de pessoas.

Os livros como uma necessidade primária

Se alguém dissesse a você que os livros são tão primordiais para a vida quanto a água, o que você diria? Talvez, poucas pessoas concordariam com esta afirmação, tendo em vista que milhões de pessoa em todo o mundo passam anos e anos são ler um livro sequer e suas vidas seguem em frente.

Mas foi pensando nessa questão vital que Boris Spivacow espalhava aos quatro ventos que por ser algo primordial, os livros deveriam ter um custo baixo para que mais pessoas pudessem ter acesso à literatura, independente de suas condições econômicas e sociais.

Entretanto, as grandes livrarias se afastavam da periferia de Buenos Aires e se os romances, poemas, análises acadêmicas, quisessem chegar a essas áreas era preciso traçar um novo plano de distribuição que não havia ocorrido com nenhuma editora importante até aquele momento.

Foi assim que o Centro Editor de América Latina, nascido sob a filosofia de “libros para todos”, adotou um sistema de disseminação popular. Ao contrário das editorações mais famosas, Spivacow levava seus livros para as bancas de jornal e pequenas livrarias. Com o tempo, as de maior fama passaram a revender suas obras. Dessa forma, o fundador da CEAL acreditava que a distribuição era, na verdade, o desenvolvimento de uma política social e cultural.

Essa visão só era possível porque os livros eram concebidos como algo fundamental para a vida em sociedade, para tentarmos compreender nossas comunidades, nações, o mundo, de forma questionadora. As mazelas sociais encobertas ou pouco debatidas, através das tramas e palavras, seriam reveladas e interpeladas.

Logicamente, a função de entretenimento nunca foi esquecida, mas pelo Centro Editor passaram grandes intelectuais que contribuíram com suas opiniões na tentativa de ajudar a resolver os problemas de seu país, participando fervorosamente das demandas que eram antepostas.

Muitos críticos literários distorceram e ainda distorcem o verdadeiro sentido da frase de Spivacow “Un buen libro es un buen negocio”. A CEAL nunca foi uma editora muito lucrativa, mas um bom livro passava a ser um bom negócio quando se proliferava por todos os cantos e seu conteúdo era comungado pelo maior número de pessoas possível, gerando análises diferentes e debates importantes.

Quem sabe um dia, aqui no Brasil, tenhamos alguém que chegue a governar este país e que realmente entenda que os livros são tão primordiais quanto a água. E que esses milhões de reais que estão sendo gastos para levar esse líquido em regiões que sentem sua falta, sejam milhões gastos para que o prazer pela leitura e a importância disso seja desenvolvida entre a população, fomentando a aquisição de grandes livros por preços menores e criando um país mais questionador.

O ensurdecedor silêncio das ditaduras

Os governos ditatoriais, especialmente os do século XX em diante, independente de suas localidades, sempre se mostraram muito misantrópicos, ou seja, revelaram extremo tédio ao gênero e às relações humanas, assim como aversão à convivência social. Para a manutenção da ordem e perpetuação do poder, tudo era válido. Entretanto, a sustentação de tais regimes antidemocráticos exigia um elemento primordial: o silêncio.

Esse substantivo masculino, originado do latim silentium, sempre muito associado à calmaria, remanso e serenidade, na verdade, nesses momentos autoritários, ganhava ares de inquietude. Onde o silêncio se fazia presente, havia algo a ser dito, mas indizível. Porém, para aqueles que ousavam romper o inexprimível, as consequências quase sempre eram terríveis.

Os instrumentos para manter o mutismo chegavam a centenas. Os preferidos: perseguições, prisões, torturas e censura. Todo tipo de manifestação contrária às ideias de quem governava com punhos de ferro precisava ser amordaçada. E muitos foram calados eternamente.

Dentre tantas formas de expressão contrárias ao ditame, a literatura desempenhou um papel muito relevante ao romper os muros das taciturnidades ditatoriais. Um número infindável de obras escapava aos olhos atentos e, ao mesmo tempo, indoutos, dos censores.

A ficção dizia muito do que a realidade não podia discorrer. E a “verdade” das mentiras revelava uma “verdade” profunda, que atemorizava a todos e esvaía pouco a pouco o resto de vida que existia.

Romances e poemas, que muitas vezes deixavam a função de entreter às sarjetas, preocupavam-se em propalar aquilo que estava encoberto pelos governos através das “mentiras oficiais”. As mazelas sociais e as repressões de um período sombrio apareciam nos enredos diluídas nas ações costumeiras dos personagens em seus cotidianos, nas categorizações sociais, nas frustrações que não eram nada além de representações do que todos os cidadãos encaravam em seu dia a dia.

Em um ambiente em que calar-se era questão de vida ou morte, a literatura transformou-se em porta para a expressão do silêncio. Nela, o não dito ganhava vida e nutria a sobrevivência às almas já perdidas em meio aos cemitérios que as ditaduras transformaram as sociedades.

O silêncio nas ditaduras era ensurdecedor e o que não era dito ocultava, e o que era anormal transfigurava-se em natural. E, assim, a vida seguia para muitos. Hoje, por mais imperfeitas que as relações democráticas possam ser, a literatura talvez tenha nos legado, embora não “ensinado” a todos, que é preferível o barulho das democracias ao dilacerante silêncio das ditaduras.