Se alguém dissesse a você que os livros são tão primordiais para a vida quanto a água, o que você diria? Talvez, poucas pessoas concordariam com esta afirmação, tendo em vista que milhões de pessoa em todo o mundo passam anos e anos são ler um livro sequer e suas vidas seguem em frente.
Mas foi pensando nessa questão vital que Boris Spivacow espalhava aos quatro ventos que por ser algo primordial, os livros deveriam ter um custo baixo para que mais pessoas pudessem ter acesso à literatura, independente de suas condições econômicas e sociais.
Entretanto, as grandes livrarias se afastavam da periferia de Buenos Aires e se os romances, poemas, análises acadêmicas, quisessem chegar a essas áreas era preciso traçar um novo plano de distribuição que não havia ocorrido com nenhuma editora importante até aquele momento.
Foi assim que o Centro Editor de América Latina, nascido sob a filosofia de “libros para todos”, adotou um sistema de disseminação popular. Ao contrário das editorações mais famosas, Spivacow levava seus livros para as bancas de jornal e pequenas livrarias. Com o tempo, as de maior fama passaram a revender suas obras. Dessa forma, o fundador da CEAL acreditava que a distribuição era, na verdade, o desenvolvimento de uma política social e cultural.
Essa visão só era possível porque os livros eram concebidos como algo fundamental para a vida em sociedade, para tentarmos compreender nossas comunidades, nações, o mundo, de forma questionadora. As mazelas sociais encobertas ou pouco debatidas, através das tramas e palavras, seriam reveladas e interpeladas.
Logicamente, a função de entretenimento nunca foi esquecida, mas pelo Centro Editor passaram grandes intelectuais que contribuíram com suas opiniões na tentativa de ajudar a resolver os problemas de seu país, participando fervorosamente das demandas que eram antepostas.
Muitos críticos literários distorceram e ainda distorcem o verdadeiro sentido da frase de Spivacow “Un buen libro es un buen negocio”. A CEAL nunca foi uma editora muito lucrativa, mas um bom livro passava a ser um bom negócio quando se proliferava por todos os cantos e seu conteúdo era comungado pelo maior número de pessoas possível, gerando análises diferentes e debates importantes.
Quem sabe um dia, aqui no Brasil, tenhamos alguém que chegue a governar este país e que realmente entenda que os livros são tão primordiais quanto a água. E que esses milhões de reais que estão sendo gastos para levar esse líquido em regiões que sentem sua falta, sejam milhões gastos para que o prazer pela leitura e a importância disso seja desenvolvida entre a população, fomentando a aquisição de grandes livros por preços menores e criando um país mais questionador.