Questionar a realidade, escancarar mazelas, hipocrisias e problemas velados de nossas sociedades. As ações citadas anteriormente podem muito bem ser atribuídas a diversos tipos de expressões artísticas, mas se a música for a escolha para desenvolver tais missões, o heavy metal é um campo fértil.
Tradicionalmente os grandes escritores do metal pesado letram suas melodias com especial atenção às questões políticas, guerras, desigualdade, meio ambiente, abusos de poder, religião, conflitos psicológicos, ou seja, tudo aquilo que encaramos em nosso cotidiano e que pouco a pouco vai consumindo o vigor da humanidade.
Os fatores são diversos, mas a razão primordial é a vontade dos compositores em fazer valer cada letra e nota musical, transmitindo algo que contribua para a reflexão de seus ouvintes. Sem esse impulso, não há a tão conhecida “música questionadora”.
É óbvio que nem sempre essa é a intenção principal. A música continua sendo um excelente meio de entretenimento. E se estamos falando de heavy metal, com toda certeza, escárnio e baderna também têm seus momentos porque dar risadas de letras burlescas também é muito válido.
Interessante notar que o metal funciona como um espelho de nossa sociedade. Entretanto, diferentemente de outros tipos de artes ou meios de divulgação de informações, seu campo possibilita uma diversidade de pensamentos, além de abordar uma série de assuntos tidos como tabu, algo que nem sempre a grande mídia retrata, por exemplo. Embora, isso não queira dizer que há aceitação de todos os temas trabalhados.
Tópicos como homossexualismo, feminismo, satanismo ou abordagens com referências políticas de direita ou esquerda, sempre dão “pano pra manga” e muitas vezes levam a embates exacerbados em que o respeito pela diferença passa bem longe, mas conforme relatado, é um reflexo da sociedade.
Além dos aspectos questionadores, esse estilo musical também é capaz de nos levar a conhecer conteúdos que talvez jamais tivéssemos o interesse em tomar contato. Idade Média, colonialismo, lobotomia, pirataria nas Grandes Navegações, povos vikings, celtas, entre tantos outros, chegaram aos ouvidos de milhões graças ao peso das guitarras, baixos, baterias e vocais headbangers.
Os álbuns conceituais também contribuem para ampliar nosso conhecimento sobre grandes obras literárias ou até as próprias composições se tornam extraordinários textos. Meu primeiro contato com o livro “O Silmarillion” de J. R. R. Tolkien (o escritor de “O Senhor dos Anéis”) apenas aconteceu a partir do álbum “Nightfall in Middle Earth” dos alemães do Blind Guardian, gravado em 1998.
Ainda assim, não há como falar em metal e não abordar a contínua falta de espaço que o gênero recebe dos meios de comunicação. Para eles, motivos não faltam. As justificativas perpassam desde o chamado “besteirol” de algumas letras até a questão comercial: “Isso não vende, então não falaremos”.
Porém, a realidade é que a potência do som e os vocais excêntricos (como os guturais) assustam a maioria dos ouvintes, mas o poder de comunicação e disseminação do que poucos falam, assustam mais.