Opinar ou não opinar? Eis a questão!

Não resta dúvida que as redes sociais ganharam importância em nossa sociedade e o número de usuários aumenta a cada dia. Mais pessoas interligadas, expressando e compartilhando suas opiniões, versando sobre os mais variados temas, gerando debates nessas redes ou, ao menos, desenvolvendo um debate interno para quem lê ou compartilha determinado assunto.

Essas discussões são de grande importância, nos ajudam a desenvolver, aprimorar ou rever nossos conceitos, mediante opiniões contrárias ou favoráveis, ajudando no respeito à liberdade de pensamento, expressão e na compreensão da diversidade e direitos do próximo.

No entanto, opinar sobre os mais diferentes temas nem sempre é visto com bons olhos. Para alguns, soa como uma forma de descrédito. Como poderia alguém falar de determinado assunto em que ela não tem a experiência necessária?

Por exemplo, é muito comum em fóruns on-line sobre futebol encontrar críticas sobre opiniões emitidas simplesmente pelo fato do usuário não ser técnico de futebol ou coisas semelhantes; ou em fóruns sobre política, por não ser candidato ou político.

Algo semelhante aconteceu com os intelectuais nas emissões de opinião. Por exemplo, até o boom literário latino-americano (movimento literário que perdurou pelas décadas de 1960 e 1970), o intelectual intervinha em diversas áreas e assuntos.

Não obstante, depois da redemocratização (“aberturas políticas” ocorridas entre 1979 e primeiros anos da década de 1990) passou a intervir apenas sobre um determinado assunto, pontual, voltando-se apenas para a sua especialidade: ou é crítico literário ou é crítico político, mas nunca os dois.

Essa questão intelectual envolve muito mais do que simplesmente “emitir opiniões” sobre um assunto e demanda muito tempo e discussão. Mas, voltando para as redes sociais, esse descrédito pode minar uma das principais funções dessa estrutura social, que é a disseminação de opinião e a criação de debates ou sub-debates em volta do tema discutido.

Logicamente, não se trata de emitir opinião sobre como fazer uma cirurgia por alguém que não é médico. Aliás, isso é na verdade antiético e nenhum profissional dessa ou de outra área deve comentar sobre assuntos como esse.

Contudo, como um cidadão que busca um país melhor pode contribuir de fato, pode escolher um bom candidato para votar, se ele não pode opinar sobre a saúde, economia, corrupção, mesmo que seja uma opinião baseada no cotidiano (a propósito, respeito muito esse tipo de opinião, muitas vezes mais sábia do que a de muito intelectual por aí).

É comum encontrar pessoas que não respeitam opiniões de indivíduos que não são especialistas, mas depois cobram da população o porquê de não pressionar o governo para isso ou aquilo, cobram a participação no debate de assuntos importantes para a nação, o porquê de não reagir veementemente contra a corrupção, etc.

Para além de uma defesa do direito de se expressar e, claro, assumir as responsabilidades daquilo que se escreve, é muito prejudicial que essa possibilidade de opinar nas redes sociais, na vida, na literatura, venha a se sentir acuada e permaneça retraída por medo das retaliações que possa sofrer.

É importante refletir sobre isso e tentar contribuir para uma mudança. Ou então, estaremos perdendo um importante meio de opinar e, porque não, de nos expressar como cidadãos ou apenas como “comentarista” de qualquer assunto que seja de interesse próprio.

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Publicado por

Mateus Sacoman

Professor universitário, historiador e músico.

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