Pelo título do texto, muito provavelmente, você deve estar imaginando que o tema a ser apresentado nas próximas linhas será literatura ou alguma forma de arte mais rebuscada. Entretanto, vamos adentrar no terreno musical e viajar, ainda que de forma breve, nos caminhos de um gênero muito polêmico: o Heavy Metal.
Sim, o “bom e velho heavy metal” é uma chave importantíssima para compreender nossa sociedade, nossos anseios e dilemas, sem meias palavras, ainda que a metáfora seja algo muito bem quisto por muitos dos grande compositores.
Embora exista um deate inconclusivo sobre suas origens, pondera-se que o Metal tenha emergido nos finais da década de 1960 nos EUA e Inglaterra, expressando-se através de um som massivo, encorpado, utilizando-se de riffs, distorções, cordas graves e notas agudas.
O especialista Chad Bowar costuma citar as bandas Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath como prógonas. Mais tarde, Saxon, Iron Maiden, Venom, Def Leppard, entre outras que compunham a New Wave of British Heavy Metal, adicionaram mais velocidade e menos blues para impulsionar com grande intensidade esse espécime musical.
A verdade é que, desde sua origem, as composições headbangersnavegaram pelos mares do subconsciente e enfrentamentos cotidianos dos seres humanos, intimamente ligados com questões sociais e políticas que regiam, e ainda regem, nosso dia a dia.
A obra From Blues to Rock: An Analytical History of Pop Music, de David Hatch e Stephen Millward, nos indica que o Sabbath já trabalhava com temas como angústia, tristeza, drogas, morte e religião nas suas primeiras criações. Com o avanço da globalização e os hot spots da Guerra Fria e, obviamente, todas as catástrofes causadas por eles, a temática política passou a se fazer presente.
Para ficar em alguns poucos exemplos, War Pigs do Black Sabbath e 2 Minutes to Midnight do Iron Maiden são boas representantes. Isso sem contar nas composições de bandas como Metallica, Megadeth, Slayer, Napalm Death, Kreator, Anthrax e Testament.
Logicamente, boa parte da imprensa especializada ou não, é enfática ao afirmar que a vastidão de subgêneros do Heavy Metal recente podem ter desvirtuado o caráter contestador do estilo. Porém, quando escutamos conteúdos sobre o Egito antigo, a Idade Média e suas diversas culturas, as expansões marítimas, cyberworld ou robôs, são todos tópicos que se fazem presentes das mais diversas formas no tempo atual.
Muitas vezes, “voltamos” ao passado para tentar entender as trajetórias que nos trouxeram até aqui. Se qualquer objeto é abordado, é porque há um interesse nele, ainda que esse não alcance certa amplitude.
No Brasil não foi diferente, principalmente com o final da ditadura no país e as mudanças trazidas pela finalização desse triste período, o metal nacional transparecia em sua bandeira aspirações, contradições e adversidades desse tempo de “transição”, embora muito desses problemas tenham raízes na época do descobrimento e foram varridos para debaixo do tapete por muitos séculos.
Não por acaso, álbuns como Chaos A.D. e Roots da banda brasileira Sepultura são uns dos mais emblemáticos. Além de contar com uma série de elementos de música tribal e percussão, os dois CD’s abordam tópicos mundiais e nacionais como guerra, ditadura, preconceito, exploração, aculturação, exclusão social, etc. Isso sem falar em nomes como Stress, Korzus, Krisiun, Viper e Angra que nos fizeram refletir um pouco sobre nossa história, vivência e nação.
Bem na verdade, a música em si sempre gera algum tipo de reflexão, fazendo-nos “pensar”. É um erro taxar o “rock” como único estilo a conceber seres pensantes. Todavia, dentre tantos instrumentos que nos auxiliam na tentativa de compreender a vida, o heavy metal, definitivamente, motiva e alimenta nossos pensamentos, observações e discernimentos sobre o mundo e o nosso país. E quem sabe até mesmo a agir, mas essa já é outra história…