Como surgiu o “Dia da Fraternidade Universal e da Paz”

Todo início de um novo ano apresenta-se para nós como uma oportunidade de buscar novas realizações ou até mesmo manter tudo o que deu certo na temporada que se passou, mas sempre com a intenção de ampliar novos horizontes. Não por acaso, o primeiro dia de janeiro se tornou o “Dia da Fraternidade Universal e da Paz” para a grande maioria dos países.

Mas nem sempre foi assim. Até a primeira metade do século XX, quando o mundo sofreu duros golpes com as duas grandes guerras mundiais e a capacidade infinita de destruição em massa, além da incapacidade dos seres humanos em resolver seus conflitos e diferenças de uma forma não aterrorizante, essa comemoração não era oficial.

Após esses terríveis episódios, entre tantos outros em séculos passados, no dia oito de dezembro de 1968, no contexto de Guerra Fria e de continuação da descolonização na África e Ásia, o Papa Paulo VI, através de uma mensagem, convocou a humanidade, independente do credo, a comemorar o primeiro de janeiro como o Dia da Paz.

“Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o “Dia da Paz”, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968.

Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro” (PAULUS PP. VI).

Nem todos os povos e nações comemoram especificamente na mesma data, principalmente porque alguns países não utilizam o calendário gregoriano ou porque têm religiões oficiais diferentes do catolicismo romano.

No caso da China, para os que seguem o calendário de caráter lunissolar, a mudança de ano pode acontecer entre o final de janeiro e começo de fevereiro, quando se espera por muita sorte, felicidade e prosperidade na nova etapa que se inicia.

Já os judeus comemoram o Rosh Hashaná no primeiro dia do mês Tishrei, o primeiro do calendário judaico rabínico, voltando-se para um período de meditação e pensamento nos atos do ano anterior, ocorre no mês de setembro. A época relaciona-se ao Dia de Julgamento (Yom ha-Din) e o Dia de Lembrança (Yom ha-Zikkaron), evocando a piedade de Deus no veredito divino das condutas desenvolvidas pelos judeus.

A virada de ano para islâmicos acontece em datas variadas por seguir um calendário lunar. A contagem dos dias tem seu início correspondente à Hégira, quando Maomé fugiu de Meca para Medina, em 16 de julho de 622 da era cristã, embora diversos autores difiram sobre a exatidão, realocando-a para 20 de setembro do mesmo ano.

Em geral, não há celebrações, mas sim um momento de oração e recolhimento. Por ser uma inovação (bidah), para muitos, qualquer tipo de referência a um “feliz ano novo” é algo proibido (haram), sendo contrário aos preceitos islâmicos.

No campo político, o “Dia Internacional da Paz” foi oficialmente estabelecido no dia 21 de setembro de 1981 pela Organização das Nações Unidas, quando a resolução 36/37 da Assembleia Geral salientou: “(…) a declaração e celebração apropriada de um ano internacional da paz, seria possível contribuir com o fortalecimento desses ideais de paz e aliviar as tensões e causas de conflitos tanto dentro como entre nas nações e povos”.

Entretanto, o primeiro dia do ano também recebeu a chancela da ONU como “Dia da Confraternização Universal” que enfatiza sempre nesta data a necessidade do diálogo e da paz entre os diferentes povos e nações.

Publicado por

Mateus Sacoman

Professor universitário, historiador e músico.

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