Culturas políticas: as compreensões de mundo e ações dos seres humanos

Quando ouvimos ou lemos o termo “cultura política”, para muitos, a primeira associação realizada é de que está se falando sobre um conjunto de saberes, crenças, manifestações ou hábitos relacionados estritamente com a política, esta significando um sistema de governo, partidos políticos ou até uma ciência das formas de governar as nações.

Porém, estamos falando de algo complexo e com raízes profundas em vários âmbitos de nossa sociedade que se entrelaçam. Serge Berstein nos indica que a cultura política não é um fenômeno imóvel, mas sim uma estrutura viva que continua a evoluir, que se alimenta e se enriquece de múltiplas contribuições.

Dentro desta perspectiva, torna-se imprescindível compreender as reais motivações que levam o indivíduo em sociedade a adotar este ou aquele comportamento político. Dessa forma, podemos indicar que a cultura política constitui o eixo consistente que informa sobre as escolhas e as tomadas de posições da humanidade em função da visão do mundo que traduz.

A cultura política resulta de uma miríade de experiências ao longo da vida e, claramente, é substância crucial das ações tomadas pelos seres sociais no decorrer dos tempos. Sincronicamente, também se reveste de uma qualidade individual, interiorizada pelo homem e uma propriedade coletiva, compartilhada por um grande número de grupos.

Assim, existe uma integração dos vetores da cultura política em que o indivíduo está imerso: família, escola, universidade, grupos como o meio de trabalho, o exército, partidos políticos, etc., que transmitem normas, referenciais, valores que se entrelaçam e constituem a formação do indivíduo ao longo de sua vida. Todos esses segmentos, se assim podemos dizer, interferem na formação do pensamento e nas ações do indivíduo ao longo de sua história.

Por isso, mas não somente, no seio de uma mesma comunidade, há uma vasta gama de culturas políticas cujas amplidões são demarcadas por princípios que correspondem a diversos valores e normas compartilhadas entre os indivíduos.

Gabriel Almond também contribui para a noção de cultura política e indica a possibilidade de entendê-la, primeiramente, semelhante a um feixe de orientações e impulsos políticos de uma comunidade nacional. E um segundo aspecto que envolve componentes afetivos, cognitivos e valorativos que abrangem tanto os conhecimentos e crenças sobre a realidade política, quanto os sentimentos políticos, além dos compromissos com esses valores políticos.

O conteúdo da cultura política também é o resultado das experiências adultas em relação às ações governamentais, sociais e econômicas. Por fim, ela afeta, como consequência, a atuação governamental e a estrutura política, acondicionando-as, ainda que não as determine prioritariamente, porque sua relação causal pode fluir em ambas as direções.

Em meio às diversas culturas políticas existentes, é possível pensar como milhares de elementos presentes na vida social interferem direta ou indiretamente na política, na maneira como as pessoas entendem o funcionamento de suas vidas, seu cotidiano social, suas decisões, etc.

Entendendo-as, talvez, possamos ampliar nossas compreensões sobre os caminhos tomados por determinadas sociedades e enxergar novas perspectivas para o rumo do nosso futuro.

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