Um dos maiores poetas argentinos, Juan Gelman, nascido em Buenos Aires em 1930, faleceu dia 14 de janeiro deste ano na Cidade do México. Foi ganhador de grandes prêmios mundiais de literatura, entre eles o Premio Cervantes em 2007, o Premio de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo em 2000 e o prêmio Pablo Neruda em 2005.
Gelman, desde muito cedo, começou a escrever os seus poemas, mais precisamente aos oito anos de idade, com onze, publicou o seu primeiro na revista Rojo y Negro, em 1941. Além de periodista, foi apoiador da Revolução Cubana de 1959, participou das FAR, Fuerzas Armadas Revolucionarias na Argentina, no final da década de 1960 e dos Montoneros, uma organização guerrilheira de esquerda peronista que implementou luta armada entre 1970 e 1979.
Suas principais obras são Violín y otras cuestiones (1956) El juego en que andamos (1959), Velorio del solo (1961), Gotán (1962), Cólera buey (1964), Hacia el sur (1982), Incompletamente (1997), Valer la pena (2001), País que fue será (2004), entre outros.
Juan Gelman sempre desenvolveu uma poesia dedicada às belezas da vida, à simplicidade, ao amor e à paixão, mas de forma avassaladora e de inconformidade. Mesmo trabalhando temáticas como essa, ficou conhecido como o expressionista da dor ou poeta da dor, por assumir uma escrita resiliente, ou seja, capaz de se colocar no lugar de outros, se compadecer com a dor alheia.
“Al amor, sueño eterno y poderoso, el destino furioso lo cambié.” (Rojo y Negro, 1941)
Podemos incluir o escritor como um literato engajado que também desenvolveu em sua escrita preocupações com a justiça social, igualdade e maneiras de relatar as mazelas de seu país ou de outros governos ditatoriais.
“Ha muerto un hombre y están juntando su sangre en cucharitas
querido Juan, has muerto finalmente.
De nada te valieron tus pedazos
mojados en ternura.
Cómo ha sido posible
que te fueras por un agujerito
y nadie haya puesto el dedo
para que te quedaras…”
(Gotán, 1962)
Perseguido e ameaçado de morte pela Aliança Anticomunista Argentina, precisou se exilar em 1975, rumando à Europa. No ano seguinte, seus filhos Nora Eva e Marcelo Ariel, além de sua nora Claudia García, grávida, foram seqüestrados a mando do governo militar.
Nascida no cativeiro, sua neta foi levada a Montevidéu de forma clandestina e lá foi criada. Seu filho foi torturado e morto, sendo seu corpo encontrado em 1990 em um tambor com cimento. Foi assassinado com um tiro na cabeça. Após dar a luz, Claudia também foi assassinada.
Depois da tragédia, Gelman passou a escrever cartas, ensaios, artigos, denunciando violações dos direitos humanos cometidas na Argentina pela ditadura. Voltou para o país, foi preso e com a ajuda de protestos intelectuais, como dos escritores Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Octavio Paz, entre outros, foi libertado mediante pagamento de fiança.
Juan Gelman mudou-se para o México, onde faleceu. Deixou a marca de esperança por um futuro melhor para o mundo e um legado de luta contra as injustiças, sejam elas sociais, econômicas ou políticas. Partiu antes de ganhar um prêmio Nobel — merecidamente em minha opinião –, mas suas lições de vida e literatura são maiores que isso.