A questão da temporalidade da obra engajada

Sabemos da grande importância dos romances, ensaios, textos em geral, engajados. Principalmente o primeiro gênero citado anteriormente, pela questão da estética realista, seria o suporte ideal de uma representação engajada de nossas realidades e da História. Além do que, o romance também dá maior liberdade ao escritor, logicamente, sem deixar os cânones literários de lado.

A literatura engajada nos possibilita enxergar um compromisso de seus escritores com seu tempo e com as problemáticas de suas respectivas sociedades, visando debater e fornecer soluções para os grandes problemas. Deste modo, podemos entender a literatura como mais uma valiosa ferramenta, dentre tantas outras, para as grandes discussões de nosso tempo.

No entanto, intelectuais, literatos ou não, constantemente criticam a questão da temporalidade das obras engajadas. Ou seja, se elas contribuem diretamente com a sua sociedade e seu tempo, estaria seu “efeito” sobre os leitores restrito a um curto espaço de tempo?

Se analisarmos a perspectiva apresenta por Benoît Denis em seu livro “Literatura e Engajamento: de Pascal a Sartre”, a literatura engajada está sentenciada a uma obsolescência rápida (quando um livro deixa de nos ser útil).

A atualidade, o tempo que passa e o mundo em constante mudança limitam de alguma forma a vida útil dessa literatura, em que os escritores escolheram ligar-se estreitamente à temporalidade, aos acontecimentos de suas sociedade. O escritor engajado, na análise de Denis, recusa-se a escrever para a posteridade.

Nesta concepção, o escritor engajado acaba renunciando a apostar nos seus leitores futuros e decidi responder às exigências do tempo presente. Impreterivelmente, assume uma espécie de sacrifício da glória que poderia receber postumamente. É algo inerente ao seu engajamento, ressaltando a sua vontade de responder claramente ao seu mundo e de participar dos debates que agitam sua realidade.

No entanto, é preciso pensar o engajamento como o ponto onde se ligam o individual e o coletivo, onde o escritor traduz em atos e para seus leitores, presentes ou futuros, uma escolha feira em determinado contexto (escolha tanto literária, quanto de opinião em um determinado debate), transformando as palavras em atos — parafraseando Sartre.

A validade desta ação permanece ad aeternum, principalmente se pensarmos que os grandes debates são revisitados constantemente ou se prolongam ao longo das décadas.

Creio, de um ponto de vista prático, que determinado texto engajado, produzido em seu tempo, revela serventia para os problemas daquele exato momento e, nesse sentido, compreendo a posição dos acadêmicos que pensam na condenação da literatura a sua atualidade.

Mas em um sentido histórico, essa obra engajada é alvos de pesquisas, como importantes fontes de análise de um determinado tema ou período em que foram produzidos, fomentando novos debates em nossas sociedades. Portanto, continuam a manter a intenção primordial de seus escritores e, de forma alguma, perdem seu valor histórico.

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