Marco Antonio De la Parra é, sem dúvida nenhuma, uma figura múltipla e ímpar da cultura chilena. Nascido em Santiago em 1952, é escritor, psiquiatra, ensaísta e dramaturgo.
E tudo o que se propôs a fazer ganhou reconhecimento não só em seu país, mas também internacionalmente. Não por acaso, é membro da Academia Chilena de Bellas Artes na área teatral e recebeu dezenas de prêmios por suas peças teatrais, romances, contos, etc.
O escritor é mais um membro da Nueva narrativa chilena de los noventa, segundo os críticos literários de seu país. E, assim como outros literatos do grupo, suas obras também são influenciadas pelo trágico período ditatorial no Chile, ou melhor, trabalham com este contexto.
Se pudéssemos escolher algumas palavras-chave para descrever sua vasta quantidade de obras, as escolhidas seriam: sátiras metaforizadas, identidade chilena, história chilena e arquétipos sociais.
Suas principais obras são Lo crudo, lo cocido, lo podrido de 1978, La secreta obscenidad de cada día de 1984, King Kong Palace o El Exilio de Tarzán de 1990, La secreta guerra santa de Santiago de Chile de 1989, La mala memoriade 1997, La tierra insomne o La vida privada/La puta madre de 1998, entre tantas outras.
Sua obra prima teatral, Lo crudo, lo cocido, lo podrido, foi censurada peal Universidad Catolica de Santiago nos anos de ditadura. O enredo gira em torno de dois garçons chamados Efraín e Evaristo, do gerente Elias, além da personagem Eliana que trabalha como caixa, juntamente com os outros personagens, em um velho restaurante na capital do Chile com nome de Los Inmortales. Todos são antigos membros de uma ordem secreta chamada “Orden de la Garzonería Secreta”.
Ao longo do texto, as estruturações das histórias parecem nos fazer conhecer de perto políticos degradantes do período, em espécies de perfis traçados parágrafo a parágrafo. Revelam também um ritual cruel, execuções de líderes políticos e cadáveres enterrados nas paredes do local, extrapolando a realidade. Transmitindo-nos uma sensação nostálgica por parte dos personagens, na busca de um passado deteriorado que parece não mais voltar.
Através dessa espécie de sátira atroz e surreal, mas também política, é possível conhecer uma outra faceta, através dos símbolos e silhuetas, de uma sociedade sob o domínio da repressão. De algo que parece querer ser esquecido, mas que é remoído e volta constantemente.
A linha temática de algumas de suas obras parece garantir a possibilidade aos leitores de refletir sobre o poder e seu funcionamento, mas não apenas relacionado à ditadura, não somente sob o ponto de vista político, mas também no âmbito individual, em nosso cotidiano.
Garantem também uma oportunidade de mergulhar profundamente nas relações subjetivas do poder no passado, presente e futuro, mas desde a perspectiva do contexto da ditadura militar no Chile.
E, assim, ponderar sobre a transição de uma fase política de repressão para uma de liberdade. Ao melhor, supostamente de liberdade. Levando-nos, então, a pensar sobre nossas vidas, enquanto pensamos na sociedade chilena, de até que ponto houve uma transição ou continuidade, até ponto a liberdade não continua sendo uma repressão disfarçada, até que o ponto o passado ainda é presente.