Para as pessoas que não estão acostumadas com o ambiente acadêmico ou com a leitura de livros ou artigos provenientes desse meio, ouvir o nome de Pierre Bourdieu pode causar calafrios. Mas até mesmo para os leitores de final de semana ou aqueles que consomem a literatura como um prazeroso entretenimento, Bourdieu tem algo simples a comunicar e que pode intensificar as experiências de leituras.
Conforme nos indica o sociólogo francês, que faleceu em 2002, os textos literários podem ser analisados, entre tantas outras formas, através do contexto social de seus escritores. O que estava acontecendo na época em que o literato estava criando sua obra, como por exemplo, as condições econômicas, política e sociais.
Se tivermos certo distanciamento da época em que o texto foi publicado, também é muito interessante verificar a recepção do livro, quais foram as opiniões da crítica literária e dos próprios leitores quando determinado romance foi lançado.
“(…) a análise científica das condições sociais da produção e da recepção da obra de arte, longe de a reduzir ou de a destituir, intensifica a experiência literária(…)”¹.
Embora Bourdieu esteja direcionando suas palavras aos pesquisadores e estudiosos, suas indicações são extremamente valiosas para nossas leituras cotidianas. Segundo ele, o resultado que vemos nos livros não brota de uma imaginação desconexa dos acontecimentos ao seu redor — por mais que os escritores tenham grande liberdade e utilizem-se da inventividade — ela se localiza no interior de um universo, que delineia as práticas e o pensamento dos escritores.
Muitas vezes a crítica que o autor pretende fazer, uma mensagem que intenta transmitir, entre outras ações, podem estar acobertadas. Relatos e testemunhos de um determinado período podem estar ali sem ser percebidos pelos leitores, tentando comunicar algo que talvez não fosse permitido ou que o próprio escritor quisesse obscurecer, buscando uma aproximação da realidade vivida até mesmo em textos de ficção científica que apresentem um contexto futurista.
Portanto, entender esse ambiente que cerca os literatos e a produção das obras, pode possibilitar uma percepção mais aprofundada do enredo e nos levar a questionar determinados caminhos tomados pela trama, engrandecendo nossa análise diante do livro e nos suscitando novas indagações sobre nossa vida em sociedade.
¹BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.14.