Criticada por muitos, elogiada por alguns e trabalhada por poucos, essa relação entre História e Literatura sempre foi conflitante dentro dos meios acadêmicos, principalmente pelos vários caminhos que trabalhos como estes podem tomar.
Visivelmente, hoje em dia, é possível encontrar uma vasta gama de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses que abordam essa relação entre História e Literatura, usando fontes como romances, obras de ficção ou então, trabalhos mais teóricos, perpassando pela relação das duas áreas.
No entanto, nos meios acadêmicos esse “tipo de história” — se é que podemos dizer assim — ainda enfrenta obstáculos e não é bem visto por um grande número de acadêmicos, principalmente se a produção envolver obras de teor fictício, ou melhor, que os críticos julgam fictício, porque os casos precisam ser analisados individualmente.
Claro que um romance cuja trama é fictícia pode carregar traços da realidade, mas isso depende de quem é o autor, qual a intenção dele para com o leitor e o que o escritor aborda. Muitos romancistas e suas obras são frutos de perspectivas, problemas, anseios do seu tempo, sejam eles sociais, econômicos, políticos, etc.
Sem contar que em determinados romances poderemos compreender a ação do autor como um intelectual de seu tempo. Por exemplo, quando falamos de Mario Vargas Llosa, importante escritor e intelectual peruano, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010 por “sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens vigorosas da resistência do indivíduo, sua rebelião e sua derrota”.
Algumas de suas obras estão influenciadas pela percepção do escritor sobre a sociedade peruana e por suas próprias experiências. É o caso das tramas, personagens e argumentos de algumas de suas grandes novelas, como La Casa Verde (1966), ambientada na sórdida e surpreendente atmosfera sobre um bordel na cidade peruana de Piura e Conversación en la Catedral (1969), que recria a opressão da ditadura de Odría, nos ambientes estudantis. Muitos outros exemplos poderiam ser dados, mas me estenderia por demais.
O ponto principal neste texto, que gostaria de deixar claro aos leitores é que acredito no poder, me referindo à importância desta intercomunicação entre História e Literatura, pois mais trabalhos de historiadores com livros, romances, Literatura, poderiam contribuir para que os leitores desses livros pudessem compreender não só a trama em si, mas o que está por trás dela, as intenções nela contida, o modo pelo qual as idéias estão encadeadas no escrito, inclusive através de outros vieses como o político, social, econômico ou talvez o papel daquele autor como um intelectual fruto de seu tempo, escrevendo sobre o seu tempo, ainda que as questões abordadas possam ser do passado (neste caso, poderíamos interpretar porque questões do passado estão à tona naquele determinado momento).
Obviamente, seria muito importante entender o que é a Literatura, o que é a História, qual a visão dessas áreas para cada um de nós, mas isso demanda tempo, discussões teóricas, estas que ainda hoje causam grandes embates acadêmicos.
Portanto, não é essa a intenção aqui. Também não estou necessariamente falando que todo e qualquer livro de ficção, romance, Literatura em geral, possa ser trabalhado (ou talvez mereça). Essa questão envolve métodos, teorias e não pode ser pensada de qualquer forma.
No entanto, gostaria de aclarar que essa relação “História e Literatura” pode ser muito frutífera, se bem trabalhada, se o historiador conseguir tornar um livro ou livros em objeto de estudo, perpassando por questões de método e teoria, pode atingir grandes resultados, principalmente pelo grande acesso do público em geral a estas obras de Literatura.
E talvez assim, esses trabalhos acadêmicos pudessem romper os muros das universidades e chegassem até aos leitores como uma nova forma de compreender uma questão (por exemplo, problemas sociais abordados em um livro), compreender o tempo em que a obra foi produzida; entender determinado escritor como um intelectual e o que ele pretende; tomar contato com um novo viés para uma determinada obra já lida, mas não como um apêndice e sim como um novo caminho tão importante quanto a percepção inicial do leitor de uma obra literária ou do autor dela.