Dreyfus, Émile Zola e a literatura engajada

A noção de literatura engajada abarca duas interpretações. A primeira, centrada em Jean-Paul Sartre, floresceu no contexto de pós-guerra e tinha essa literatura engajada como algo historicamente situado. Essa concepção envolveria uma atenção especial com questionamento políticos e sociais, com ideais demarcados pela Revolução Russa de 1917.

A segunda interpretação, com Andre Malraux e Albert Camus como principais figuras, entendiam a literatura como mais ampla e flexível, com questionamento mais humanos e sobre a organização das cidades, defensora de valores como a justiça e liberdade, sem agarrar-se especificamente à Revolução de 1917.

O engajamento literário se tornou visível mais precisamente no século XX, mas seu ponto de partida foi o famoso caso Dreyfus. Foi nesse episódio em que o debate entre os escritores ganhou notoriedade. Esse caso demarca o surgimento da noção de “intelectual” na França. Pois possibilitou um duplo cenário: a submersão dos intelectuais e a literatura engajada com práticas que começavam a se definir.

Explicando o famoso caso: em 1898, houve a publicação do texto do famoso literato Émile Zola, J’accuse, denunciando os erros e abusos no processo de 1894, sofrido pelo oficial de artilharia do exército francês, Alfred Dreyfus, acusado de traição por espionar em favor da Alemanha.

Zola obteve apoio de outros escritores, contribuindo para que anos depois o processo fosse revisado. Essa intervenção aconteceu no momento em que Zola detinha grande reputação por seus romances e poemas, utilizando-se dela para intervir. Dreyfus foi considerado inocente. As acusações contra ele foram baseadas em documentos falsos por sua origem judaica, demonstrando um claro xenofobismo que tomava conta de muitos países na Europa.

Mas é preciso entender o caso Dreyfus, como um acontecimento que reconfigurou o papel do intelectual e não que o tenha criado, mas suscitou o surgimento de uma literatura engajada.

Dessa forma, podemos entender que o texto de um literato converteu-se em uma intervenção em sua sociedade, em um debate importantíssimo para o seu contexto. Essa “intercessão” foi discutida por seus pares — apoiadores ou não — pela sociedade civil, pelo governo francês, etc.

Assim, suas palavras foram levadas em consideração, abrindo precedentes para que outros escritores — desde que alcançassem reputação suficiente para intervir — pudessem participar das grandes questões de suas nações, continentes ou do planeta.

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