Jean-Paul Sartre, grande escritor, crítico literário e intelectual francês do século XX, fortaleceu e elucidou as concepções sobre a literatura engajada, ressaltando a importância dos literatos em assumirem uma escrita comprometida com suas sociedades, participando ativamente dos mais diversos debates, na busca de soluções para os problemas de seus tempos, através de seus romances, poemas, artigos, etc.
Grandes escritores do nosso tempo, como Leon Tolstói, Jorge Semprún, Octavio Paz, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, leram Sartre e nortearam seu desenvolvimento intelectual através de seus textos; não só ficções, mas temas como o socialismo, existencialismo, engajamento, etc.
Muito presente enquanto intelectual e chamado sempre a opinar nas grandes questões na França, Sartre gerou polêmica no ano de 1964 quando, ao menos aquela vez, abjurou a literatura. Em um texto publicado no jornal francês Le Monde, Sartre indicou que diante das crianças que morriam de fome, La nausée — romance de sucesso escrito por ele em 1938 — não tinha serventia alguma.
Por isso, aconselhou os escritores de países como os africanos que, de certa forma, renunciassem a escrever para se dedicarem a tarefas como ensinar e combater o analfabetismo, desenvolvendo suas populações para que então a literatura fosse possível um dia.
Vários escritores receberam com certa estranheza a mensagem de Sartre, alguns, como Vargas Llosa se sentiram traídos. Deveriam então deixar a literatura engajada, que tanto acreditaram de lado? Escrever então era inútil e “proibido” enquanto a situação social e econômica não fosse melhorada?
Dizia Vargas Llosa:
“A partir de qual coeficiente de proteínas per capita num pais era já ético escrever romances? Que índices deviam alcançar a renda nacional, a escolaridade, a mortalidade, a salubridade, para que não fosse imoral pintar um quadro, compor uma cantata ou fazer uma escultura? Que ocupações humanas resistem à comparação com as crianças mortas mais airosamente que os romances? A astrologia? A arquitetura? Vale mais o palácio de Versailles que uma criança morta? Quantas crianças mortas equivalem à teoria dos quanta?” (VARGAS LLOSA,1985, p.399–400)
Talvez Sartre tenha apenas tentando passar uma mensagem sobre a importância do combate às injustiças sociais, mas com as palavras erradas. É difícil definir tão claramente por que o escritor francês se expressou dessa forma. Um dia ruim?
Um pensamento hesitante, daqueles que temos quando pesamos se realmente aquilo que fazemos faz algum sentido. O existencialismo, tão caro a Sartre, na busca de uma experiência humana mais concreta? Ou realmente quis dizer que a literatura, mediante esse panorama, de nada vale?
Eis uma discussão sem fim. Não só para a literatura, mas para as diversas atividades que envolvem a vida humana. Possivelmente não é um debate de prioridades, mas de coexistência. Trabalhar para a construção de um mundo melhor em diversas frentes, sem deixar a literatura de lado, é claro.