Spivacow e o Centro Editor de América Latina

É impossível iniciar qualquer discussão sobre literatura argentina no século XX sem destacar a importância do Centro Editor de América Latina, o CEAL. O editorial foi constituído no ano de 1966 pelo editor José Boris Spivacow com a intenção de publicar grandes livros que, em sua opinião, deveriam ser lidos por todos os cidadãos argentinos, independentemente de suas condições socioeconômicas.

Quando decidiu iniciar a empreitada que mudaria a face cultural da Argentina, Spivacow não era “marinheiro de primeira viagem”. Com muita competência, em 1941, começou a trabalhar na sessão infantil do Editorial Abril e no ano de 1955, a convite do amigo Arnaldo Orfila Reynal, assumiu o cargo de gestor da Editorial Universitaria de Buenos Aires (EUDEBA), editora pertencente a Universidad de Bueno Aires, obviamente especializada em publicações acadêmicas.

Lá, permaneceu até que o militar Juan Carlos Onganía, assumiu a presidência do país após desenvolver o golpe de estado em 1966 — autodenominado “Revolución Argentina” — e, de forma ditatorial, interviu na universidade ocasionando a renúncia de Spivacow que em setembro do mesmo ano deu início ao CEAL.

Importantes nomes da literatura e do periodismo nacional estiverem ao lado do então fundador, como Oscar Díaz, Beatriz Sarlo, Aníbal Ford, Horacio Achával, Graciela Montes, Susana Zanetti, Jorge Lafforgue, entre outros.

O Centro Editor, sempre que possível, prezou pela qualidade de suas publicações (tanto pelos projetos gráficos, quanto por conteúdo), independente do direcionamento de público, tendo como lema “libros para todos, más libros para más”. Não por acaso, economicamente falando, a tarefa nem sempre foi rentável.

Grandes coleções e destacados escritores eram publicados, gerando os montantes necessários para as publicações de livros de menor apelo mercadológico, mas não menos significativos. Logicamente, não podemos pensar esse grupo editorial somente através de uma visão filantrópica, até porque sem dinheiro, o grandioso projeto não teria durado muito tempo.

Mas muitas linhas de publicações eram colocadas no mercado a baixo custo e em regiões habitacionalmente menores, para que a literatura pudesse abranger um maior número de leitores. Para que isso pudesse acontecer, uma rede de livrarias própria e pequenas bancas foram espalhadas inicialmente por Buenos Aires.

Para além da rentabilidade econômica, que de fato nunca aconteceu, o legado proporcionado pelas publicações e princípios editoriais da CEAL são infinitos, incontáveis e imprescindíveis para a nação argentina. Doente, em 1994, Spivacow faleceu. Tendo levado, em seus últimos dias, uma vida modesta e orgulhosa jamais ter extraído qualquer quantia da editora para manter a “roda cultural” girando.

Sem condições de ser mantida por seus descendentes e amigos, a editora fechou as portas em 1995, mas sua herança perdurou e perdura nos milhares de livros publicados e nas mentes dos milhões de leitores transformados por elas, espalhados por todo o mundo.

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