Ensaio literário e a intervenção na América Hispânica

Não é novidade nenhuma que a literatura pode contribuir imensamente para o debate das questões de grande importância para o presente e futuro das sociedades nas áreas como a cultura, economia, política e social.

Na América Latina, principalmente na primeira metade do século XX, muitos literatos foram convocados para as discussões intelectuais, intervindo diretamente em suas comunidades através de obras engajadas, propondo soluções para os problemas pelos quais enfrentavam conjuntamente.

Ainda que muitos gêneros literários tenham participado das contendas sociais, o ensaio, principalmente na América Hispânica, ganhou destaque e respeito da intelectualidade e sociedade civil como uma porta para proposição de soluções e elucidações, diferentemente do Brasil, onde até hoje este gênero é visto com maus olhos pelo meio acadêmico, acusado de não conter um rigor científico e de não propiciar uma colaboração efetiva.

Embora tenhamos figuras importantes como Manuel Bonfim, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, etc.

Historicamente o gênero foi “inaugurado” pelo importante escritor uruguaio José Henrique Rodó, com o ensaio Ariel, em 1900. Seu texto era voltado diretamente aos jovens das nações hispano-americanas, recomendando uma cultura de los sentimientos estéticos frente ao perigoso utilitarismo e nordomanía.

Ao longo da obra Rodó usou personagens de William Shakespeare, do livro A Tempestade, são eles: Calibán, Próspero e Ariel. Ressaltando que no período de emancipação das nações latino-americanas, iniciando-se por volta de 1810, alguns ensaios incipientes já circulavam pela região.

Muitas são as definições para o ensaio, inclusive algumas subdivisões como ensaio literário, acadêmico, periódico. Especificamente sobre o literário, tem um caráter dialogante com seu leitor e volta-se totalmente para a realidade presente.

Dentro da perspectiva da literatura engajada, que nos interessa aqui, Benoît Denis indica que o ensaio não tem a intensão de alcançar um cientificismo, é marcado por uma retórica do eu subjetivo, explorando a vivência do escritor enquanto sujeito social.

Apenas para conhecimento, outros importantes escritores que fizeram uso do ensaio na América Hispânica foram Andrés Bello, Domingo Faustino Sarmiento, José Martí, Octavio Paz, Ángel Rama e José Carlos Mariátegui. Já na geração do boom, Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, José Donoso, José Lezama Lima, Jorge Amado, Augusto Roa Bastos e Mario Vargas Llosa.

Dentro do panorama apresentado em muitos dos textos da sessão Literatura e História, sobre a importância da literatura para além do entretenimento, o ensaio é mais um importante instrumento, dentre tantos outros, para o entendimento das sociedades e seus acontecimentos nas nações da América Latina, contribuindo para a reflexão e formação de opinião dos leitores, colaborando para a construção dos indivíduos enquanto cidadãos.

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