A crítica literária e o surgimento dos intelectuais literários na América Latina

Na América Latina o florescimento dos intelectuais da literatura aconteceu por volta da década de 1950. Isso porque a atividade literária e a intervenção intelectual pareciam estar interligadas. Na verdade, desde o final do século XIX até a metade do século XX, é possível afirmar que muitos dos que se entendiam como intelectuais eram originários da literatura, expressando-se através dos romances, ensaios, poesias, etc.

Sem dúvidas, segundo Gonzalo Aguilar, o termo “intelectual da literatura” designa àquele que exercia originalmente a atividade como crítico literário e que aos poucos se projetou como figura pública, aproveitando-se do seu reconhecimento literários e da sua capacidade para interpretar com um “método e um arsenal conceitual sofisticado” os textos e dar a eles uma significação política, cultural e social.

Com o passar dos anos, esses críticos literários e também literatos que não necessariamente exerciam atividade crítica interviram e opinaram em assuntos importantes para as suas sociedades, principalmente pelo fato, confirmado por escritores do boom latino-americano, dos governos ditatoriais na realidade latino-americana não censurarem com veemência os romances.

Possibilitando, portanto, que estes tratassem de temas “impensáveis” dentro do contexto militar e alertassem os cidadãos através das tramas.

Aguilar, afirma mais uma vez, que este tipo de intelectual é, na verdade, resultante de uma junção de fatores que surgiram no século XX, entre eles a consolidação e modernização das universidades enquanto criadoras de um saber humanístico; o crescimento do mercado dos bens simbólicos; um maior acesso à leitura; o surgimento de uma disciplina específica da crítica literária e, principalmente o protagonismo crescente que desempenharam as ficções narrativas na busca por uma definição da identidade latino-americana.

Atualmente muito se fala sobre uma crise da crítica literária, mas esse é um outro tema. Na verdade, importante é destacar que por tantos anos esses indivíduos — Borges, Ángel Rama, Alejo Carpentier, Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Ángel Rodríguez Rea, Miguel Oviedo, etc. — se preocuparam e contribuíram para suas respectivas sociedades enquanto formadores de opiniões.

Sem dúvidas, a crítica literária ocupou nas décadas de 1950 e 1960 uma singular posição de influência, possibilitando reflexões críticas, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis, através também, da literatura.

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