O título do texto não está em espanhol por acaso. Essa pergunta irritava constantemente Jorge Luis Borges, um dos maiores escritores latino-americanos, ou melhor, do mundo. A esse questionamento, Borges respondia assim: “Para nada, se você pensar qual é a utilidade do canto de um canário ou o brilho de um pôr do sol!“.
A explicação sobre o ponto de vista de Borges por Mario Vargas Llosa nos ajuda a entender melhor essa resposta. Dizia o peruano que em comparação ao canto dos pássaros ou o espetáculo do sol unindo-se ao horizonte, um poema ou romance não estão ali simplesmente fabricados pela natureza, são uma criação humana.
E justamente por isso é interessante que se indague como e por quem foram criados.
Entender-se-ia assim que nasceram de incertezas na intimidade de uma consciência que os escritores foram moldando através do processo de escrita. Formando uma vida artificial, feita de linguagem e imaginação que coexiste com a realidade, principalmente porque a vida que nós, seres humanos, temos não nos basta, não é capaz de responder a todos nossos desejos e anseios.
Um texto literário só passa a existir quando é adotado por seus leitores e passa a fazer parte da vida social, tornando-se uma experiência compartilhada.
Pois bem, é importante entender então que de nada adiantará escrever um livro, independente do gênero, se ele não for lido e essa experiência não for divida com ninguém. Essa é uma das grandes incógnitas dessa equação que é escrever, seja nos meios acadêmicos ou no mercado editorial.
Se encararmos, assim como muitos escritores encaram a literatura e seus textos, como um alimento do espírito crítico das pessoas e uma ferramenta importante para o questionamento das mais diversas sociedades, se ela não alcançar seus leitores falhará nessa empreitada.
E como alcançar então leitores? Não há uma receita, infelizmente. Mas talvez seja uma combinação de uma boa escrita, apoio dos pares, uma editora que tenha visão e se arrisque, entre tantos outros elementos.
Ser um sucesso de vendas oportuniza alcançar mais pessoas, mas até chegar ao sucesso existem percalços. Exemplos não faltam de literatos com uma escrita perfeita, criatividade, domínio da linguagem e do enredo, que nunca se tornaram importantes no meio comercial ou acadêmico.
Quebrando um pouco o protocolo, desviando um pouco do assunto, confesso que isso tem me desanimado constantemente, porque milhões de pessoas no mundo se dedicam arduamente a escrever seus romances, suas pesquisas; se estressam constantemente com a falta de inspiração diária, com a busca da perfeição que nunca vem e nunca são reconhecidas.
Além disso, a questão dos críticos literários e avaliadores é de tirar o sono, porque sob um determinado ponto de vista sua criação é uma imundice e sob outro, é algo digno. Mas enfim…
Escrever sobre a utilidade da literatura é um assunto vasto, não será aqui o esgotamento do tema. E, além disso, há os pontos sobre qual literatura é boa e qual é ruim, mas não resta duvidas de que ela alimenta a inconformidade e instiga o leitor à busca de mudança, seja uma transformação de sua própria vida, da sociedade, do seu modo de pensar, etc.
Mas se partimos do ponto de vista que a literatura sirva para algo, precisa-se pensar, portanto, as formas para que textos e autores, independente de sua fama, chegue aos leitores. Uma obra humana para humanos!