Os cinco primeiros romances do escritor peruano Mario Vargas Llosa, publicados no final década de 1950 e início de 1960: Los Jefes (1959), La ciudad y los perros (1963), La casa verde (1966), Los Cachorros (1968) e Conversación en la Catedral (1969), ainda sejam narrações muito diversas em intenção, assunto e formas (e, de fato, cada obra constitui uma intensificação da complexidade técnica e de conteúdo a respeito da anterior), apresentam uma inquestionável unidade quanto à complexidade do projeto e a visão narrativa que propõem.
Vargas Llosa aprendeu a cultivar o realismo urbano, de clara intenção social e testemunhal, às vezes inspirado na escola narrativa norte-americana, o neo-realismo literário e cinematográfico italiano e as ideias do compromisso desenvolvidos por Sartre.
Estas influências são visíveis nos contos juvenis de Vargas Llosa e até mesmo em seus primeiros romances. No entanto, a principal novidade que o autor introduz em suas obras é a ruptura do modelo de representação naturalística e do esquema intelectual, algo simplista em que se apoiava o trabalho desse grupo.
A mesma evolução dos romances do autor demonstraria sua rápida independência estética, estimulada por sua experiência européia e o descobrimento de outras formas e propostas.
Los Jefes
A primeira, publicada no ano de 1959, contém seis contos: Los Jefes, El desafio, El hermano menor, Dia domingo, Um visitante y El abuelo.
Os contos, de forma geral, abordam problemáticas da sociedade peruana que perpassam pela rigidez dos padrões educacionais nos colégios militares, o não respeito às diferenças, a violência no campo, e as situações do convívio em sociedade, as contradições, o medo, a hipocrisia, colocando em pauta os valores humanos.
Como em outras grandes obras suas que viriam posteriormente, inclusive com uma gama semelhante de abordagens, Vargas Llosa explora cidades como Piura, Lima, com seus bairros e personagens marcantes que habitam essas localidades e as caracterizam, tornando-se uma importante porta de entrada para a análise dos grupos que constituíam as cidades costeiras que recebiam cada vez mais migrantes das áreas serranas.
La ciudad y los perros
A segunda obra presente nesta análise foi publicada no ano de 1963. A obra se desenvolve em meio a uma escola militar de cadetes em Lima e a trama baseia-se nas próprias experiências do autor no Colégio Militar Leôncio Prado.
O epílogo do romance certifica o que foi o colégio para os protagonistas, assim como para Vargas Llosa: uma estação por onde eles passaram, que os formou ou deformou, para integrá-los à sociedade civil.
O autor critica também a forma de vida e cultura castrenses, onde se potencializam valores já estabelecidos como agressividade, masculinidade, valentia, sexualidade, entre outros, que mutilam o desenvolvimento dos alunos desse internato como pessoas. Com uma vasta gama de personagens, as vidas destes vão-se entrecruzando, compondo assim a trama do livro.
La Casa Verde
A terceira obra a ser analisada foi publicada em 1966, o segundo romance de Mario Vargas Llosa, conta uma trama envolvendo um bordel, de mesmo nome da obra, cuja presença em Piura afeta as vidas de todos os personagens.
A história centra-se em Bonifácia, uma garota de origem aguaruna que é expulsa de um convento para transformar-se logo em la selvática, a prostituta mais conhecida da Casa Verde.
Los Cachorros
A quarta obra de Vargas Llosa presente nesta pesquisa é Los Cachorros. Costuma-se relacionar diretamente este livro com “La ciudad y los perros“, argumentando-se os temas trabalhados nele, como adolescência e a juventude, os problemas de adaptação e a sociedade feroz que castiga aqueles que não seguem suas regras.
A obra mostra a falta de adaptação propiciada por uma castração física. Esta castração pode simbolizar a relutante falta de machismo no personagem principal, Pichula Cuéllar, recurso que caracteriza a sociedade peruana do período, retratada no texto.
Cuéllar, porém, nunca rechaça este machismo, mas tenta adaptar-se a ele, mesmo sabendo que não pode adaptar-se. A crítica à pressão que a sociedade exerce sobre o individuo diferente é clara e muito bem abordada nesta obra, retratando a sociedade peruana tão criticada por Vargas Llosa.
Conversación en La Catedral
O quinto e último livro de Vargas Llosa presente em nossa análise foi publicado em 1969, a obra é uma visão da sociedade peruana durante a ditadura do general Manuel Odría, nos anos 1950, época em que o Peru estava marcado pela corrupção, imoralidade, discriminação, prejuízos sociais e raciais.
Na historia se observa a decepção que vai tendo Santiago del Perú de meados do século XX uma vez que o protagonista vai caindo pouco a pouco no pessimismo e na mediocridade, o que lhe faz indagar no início do livro: “¿En qué momento se había jodido el Perú?”.
Vargas Llosa, através de Santiago Zavala, relata uma imagem pessimista do Peru daquele período, neste complexo romance, dialógico e fragmentado, cuja leitura é um desafio e sua análise um desafio ainda maior para a crítica.