Nascido em Santiago, no ano de 1955, o chileno Jaime Collyer não é um escritor que se encontra todos os dias nas esquinas ao redor do mundo. É difícil tentar analisá-lo em poucas linhas e buscar respostas para o tipo de escrita desenvolvido pelo literato.
Se fosse possível estabelecer três palavras-chaves para demarcar a literatura desenvolvida por ele, poderíamos elencar sexo, psicologia e pressão (moral, política, etc.).
Escrevendo desde muito cedo, enquanto ainda estava no colégio, graças aos famosos talleres literários descobriu que, definitivamente, o fazer literário era algo que lhe dava prazer. Entretanto, outra área lhe chamava a atenção: a psicologia. E foi esta a sua primeira profissão. Formou-se psicólogo no ano de 1980 na Universidad de Chile, mudando-se em seguida para Madrid, onde permaneceu até 1990.
Enquanto desenvolvia seus contos e romances, Collyer seguiu se graduando, diplomando-se em Relações Internacionais e Ciências Políticas e obteve o título de mestre em Sociologia do Desenvolvimento. Seu primeiro livro publicado foi a história infantil Hacia el Nuevo Mundo, juntamente com Patricia Fernández.
No entanto, a obra que demarcou o escritor como um grande da Nueva narrativa chilena de los noventa foi seu romance El infiltrado, de 1989, que lhe rendeu o prêmio internacional Grinzane Cavour, mais de duas décadas depois, como o romance latino-americano traduzido para o francês no ano de 2001.
Outros grandes romances de sucesso do escritor foram Cien pájaros volando, de 1995, El habitante del cielo, de 2002, e La fidelidad presunta de las partes, de 2009. Também obteve sucesso em contos como La bestia en casa, de 1998, Cuentos privados, de 2002, e La voz del amo, de 2005. E o ensaio Pecar como Dios manda, historia sexual de los chilenos, de 2010.
Collyer tem como marca registrada em suas temáticas adentrar no mais profundo dos seres humanos, colher os seus anseios e desejos mais íntimos, tentando esmiuçar o cataclismo gerado entre os pensamentos, o prazer e as ações.
Embora seja difícil generalizar, seus personagens — principalmente aqueles de enredos estabelecidos no século XX — encontram barreiras que lhes geram vazios existências, por diferentes motivos, ainda que, em boa parte delas, a culpa recaia sobre as pressões exercidas pela sociedade.
Essas coerções, intimidações, imposições mergulham em aspectos morais e, em muitos casos envolvem questões relacionadas à sexualidade dos personagens de seu livro ou, ao menos, dubiedades no subconsciente que envolvem outras temáticas que não a sexual, mas que geram grande sentimento de culpa, desespero ou incertezas.
A maquinaria repressiva da ditadura militar também é representada em alguns livros, mas ela nem sempre parece ganhar grande destaque. Em determinadas tramas, as relações sociais se deterioram sozinhas, por culpa ou erros individuais não ligados diretamente às manobras ditatoriais. Embora, seja possível fazer uma análise mais ampla em que a ditadura possa ser comparada ao ar, ninguém vê, mas está ali, alimentando as vidas.
Acima de tudo, é possível enxergar que as grandes problemáticas estão relacionadas à transgressão às regras — ainda que de forma anêmica — estabelecidas pela sociedade, comunidade ou, a falta de adaptação a elas por algum motivo abrupto.
Como viver sob as pressões e violência que estão diluídas na busca pelo dinheiro, prestígio, fidelidade, masculinidade, machismo, etc. O que tanto chama a atenção em seus livros, é na verdade, o depois: o que fazer quando as transgressões e os rompimentos das regras acontecem inesperadamente?
Como seguir em frente, repensar tudo o que se fez até o derradeiro momento e o que se fará para o futuro? Os finais são abertos, de definitivo, apenas a reflexão sobre as tramas.