Novo ano, velhos problemas: pequeno retrato da leitura no Brasil

Um novo ano chegou e o desafio de tornar o Brasil solidamente um país de leitores continua. O Instituto Pró-Livro tem desenvolvido em excelente trabalho, preocupando-se cada vez mais em agir para a população brasileira se aproxime cada vez mais da literatura e, o principal, que essa seja uma atividade cotidianamente prazerosa.

Desde 2001, o Instituto, em parceria com o Ibope, vem desenvolvendo um grande projeto de pesquisa com a intenção de traçar o perfil dos brasileiros quando o tema é leitura. De lá para cá, três grandes análises foram divulgadas com importantes questionamentos, incluindo os anos de 2008 e 2012.

Na terceira edição, com dados de 2011, o documento revela que o ato de ler aparece como a sétima atividade que a população faria em seu tempo livre. Em primeiro, como era de se esperar, está assistir televisão. No estudo anterior, a porcentagem era de 37%, caindo para 28%. Navegar na internet aparece logo atrás, mas a tendência é que no próximo estudo, ultrapasse a apreciação dos livros.

Em relação à leitura entre os brasileiros, é preciso destacar as definições: “Leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses”. E, “Não-leitor é aquele que não leu, nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12”. Levando-se em consideração a data da pesquisa desenvolvida em todo o país.

Os dados informam que o Brasil detém 88,2 milhões, ou seja, cerca de 50% da população naquele período. As mulheres leem mais que os homens e, fomentados pelas escolas, a maior porcentagem de leitores contra não-leitores por idade está entre os cinco anos até os 17. A partir dos 25 anos, aqueles que não leem já superam os leitores.

Sob o ponto de vista dos setores sociais, as classes D e E, tomam pouco contato com a leitura, mas o índice já é alarmante com o grupo C. Ao mesmo tempo que o Sudeste concentra a maior porcentagem de leitores, também açambarca a maioria dos não-leitores. A média de livros lidos em geral é de 1,85 nos últimos 3 meses, apenas 0,82 foram lidos inteiramente. Portanto, a número de dois livros não chegou a ser alcançado.

Em relação aos gêneros mais lidos, primeiro a Bíblia, posteriormente, Livros Didáticos, Romances, Livros religiosos, Contos, etc. Ensaios e ciências ocupam as colocações de baixo.

Enfim, há uma série de dados que muito nos revela sobre o “quadro de leitura” no Brasil, entretanto, o mais alarmante é que as pessoas simplesmente preferem não ler por falta de tempo ou interesse. E quando analisamos os principais influenciadores no processo de leitura, vemos citados os professores e as mães.

Com essas informações precisamos desenvolver políticas de incentivo à leitura nas escolas, mas a obrigatoriedade dos livros tem gerado desinteresse aos alunos. Dessa forma, precisamos encontrar mecanismos para as crianças desde muito novinhas, tomem contato com a leitura e isso deve começar em seu ambiente familiar.

É essencial que os pais trabalhem conjuntamente nessa atividade. Enquanto seus filhos não sabem ler, é preciso que se leia para eles, as crianças podem ser alimentadas nesse quesito simplesmente apenas vendo que seus pais estão lendo constantemente.

E então, em um segundo instante, cabe ao professor estimular a leitura nos pequenos, de preferência utilizando-se de associações positivas, psicologicamente falando, desenvolvendo situações que ficarão associadas com o prazer e não com a irritação ou chateação.

Outro ponto é que as crianças quase nunca são presenteadas com livros e a maioria dos leitores foi taxativa em afirmar que ganhar obras literárias exerceu grande influência no interesse pela leitura. Quase todos nós concordamos que quando éramos menores, se o presente não fosse brinquedo, era bem chato. Mas que tal oferecer um brinquedo e um livro? Logicamente é preciso fazer uma escolha certa e atrativa.

O acesso à biblioteca é relevante, sem dúvida nenhuma. Ele nem sempre é garantido e quando é, não parece ser algo atrativo. Associá-la à estudo e pesquisa não tem sido positivo para àquele que ainda não leem ou fazem isso de forma bem reduzida. É preciso outro tipo de associação.

Mas em tempos de internet a todo vapor, é preciso começar a pensar que as bibliotecas devem se tornar centros de leitura também on-line. Conteúdos podem ser disponibilizados de forma não física, ferramentas interativas e compartilhadoras podem ser utilizadas também. Por que não ouvir música em um fone, enquanto lê, no prédio da biblioteca de sua cidade? É apenas um exemplo e, obviamente, não estamos falando academicamente aqui.

Enfim, não há mágica, mas é preciso que o contato com os livros aconteça desde cedo e em situações agradáveis. O foco principal é “fazer o indivíduo ler”, mas é possível fomentar a literatura, ainda que o prazer pela leitura não tenha sido plenamente encontrado. Utilizar-se da mídia, da internet para divulgar vídeos, entrevistas, músicas, chats interativos com grandes escritores, festivais, games, cinema, etc.

As políticas também precisam ser concentradas respeitando a cultural regional dos leitores e garantir acesso às atividades culturais a todos os grupos sociais, enfatizando determinadas ações, que devem ser diferentes conforme as necessidades de cada comunidade, evitando assim gastos exorbitantes em um lugar onde a maioria tem grande contato com livros e pouco investimento onde é mais necessário.

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Publicado por

Mateus Sacoman

Professor universitário, historiador e músico.

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