É difícil descrever Simone de Beauvoir em relação a suas atividades porque ela não foi apenas uma escritora. Foi, sem dúvida nenhuma, personagem marcante na luta pelos direitos das mulheres, mas não há como demarcá-la somente como feminista porque seus textos literários, filosóficos, romances ou ensaios, são fontes importantes e enriquecedoras para entendermos nosso tempo.
Nascida em 9 de janeiro de 1908 em Paris, Simone Ernestine Lucie Marie Bertrand de Beauvoir desenvolveu suas concepções dentro da escola filosófica existencialista, voltando seu pensamento para o sujeito humano, responsável por si mesmo, considerando seus sentimentos e vivências, na busca e garantia de uma condição de liberdade.
Segundo Márcia Regina Viana: “No pensamento de Simone de Beauvoir, são observados dois pilares fundamentais de sustentação: um positivo, que é a assunção da liberdade e um negativo, que é a demissão desta condição de ser livre.
A trajetória humana constitui-se como resultado da dialética íntima entre estas duas escolhas que o ser pode realizar: constituir-se um sujeito livre ou demitir-se dessa liberdade. O ser é, quando é livre para ser. Entretanto, quando escolhe não ser, demite-se de sua liberdade, mas continua existindo, sendo alguma coisa”.
Como romances, seus principais livros são L’Invitée (A convidada) de 1943, Le Sang des autres (O sangue dos outros) de 1944 e Les Mandarins (Os mandarins) de 1954. Já em relação aos ensaios, o mais conhecido do campo filósico é Le Deuxiême Sexe — les faits et les mythes (O Segundo Sexo) de 1949, além de Le Sang des autres (O sangue dos outros) de 1945 e La Vieillesse (A Velhice) de 1970.
Suas obras de caráter autobiográficos também ganharam muito destaque, como Mémoires d’une jeune fille rangée(Memórias de uma moça bem-comportada) de 1958, La Force des choses (A força das coisas) de 1963 e Tout compte fait (Tudo dito e feito) de 1972.
Imersas no pós-guerra, suas obras revelam uma ânsia pela consolidação da liberdade e individualidade humana. Além da liberdade, outros dois pontos conhecidos são essenciais para compreender seus textos: a ação e a responsabilidade individual, que, muitas vezes, se traduziam como proposições contraditórias, paradoxais.
Mas não somente isso, ao longo de sua vida desenvolveu pensamentos e críticas sobre o papel da mulher na sociedade, a postura e conduta dos indivíduos perante os idosos, assim como questões políticas, ideológicas e sociais, embora essas três estivessem sempre interligadas.
Sua obra o Segundo Sexo é considerada um ponto-chave para o feminismo, por desenvolver elementos importantes, de embasamento para o movimento, em que a escritora aborda a situação das mulheres ao longo da história, como eram vistas e de que forma poderiam lutar por mais liberdade, desenvolver um papel primordial dentro de suas sociedade.
Já o livro Os Mandarins, considerado por muitos sua melhor obra, reflete o período em Paris após a Segunda Guerra Mundial, os embates ideológicos e a temática feminista também, relatando a vida de um casal de escritores, muito provavelmente Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, com quem viveu boa parte de sua vida uma relação aberta.
Estavam juntos, mais isso não os impedia de se relacionar amorosamente com outras pessoas de forma clara. Inclusive, não os impedia também de fazer viagens juntos com seus respectivos amantes, mas essa é uma outra história.
Por fim, embora seja difícil descrevê-la, Simone de Beauvoir é um arquétipo de personagem memorável, universal e imortal, que quando se fala sobre ele, já vem à mente toda uma história, características marcantes e situações excêntricas.
Apenas seu sobrenome já nos remete a uma série de temas como a literatura, liberdade, feminismo, existencialismo, etc. E diante de tudo isso, pouco importa defini-la, importa mesmo é apreciá-la.