Politicamente, a ditadura no Chile terminou quando Augusto Pinochet em 11 de março de 1990 entregou o comando do país ao presidente eleito Patrício Aylwin. No entanto, a presença do regime militar permanece até hoje na vida de muitos chilenos. Não é diferente com a literatura.
Um grande número de livros, romances e poemas abordaram o tema em seus enredos, muitas vezes como uma espécie de pano de fundo do contexto da trama, ou de forma explícita ao longo das histórias.
Oír su Voz de Arturo Fontaine Talavera, Siete días de la señora K de Ana María Del Rio, Morir en Berlín de Carlos Cerda, Mala Onda de Alberto Fuguet e Estrella distante de Roberto Bolaño são alguns exemplos, dentre milhares.
Essas obras apresentaram visões particulares de seus autores, através de vozes individuais ou uma polifonia para abordar contextos influenciados pela ditadura.
Entretanto, alguns acadêmicos chilenos afirmam que as abordagens desenvolvidas pela maioria dos escritores dos anos de 1990 não corresponderam a uma série de expectativas com a vinda do regime democrático e a necessidade de um aprofundamento da consciência história da nação.
Ficaram reclusas apenas no campo individual da memória e deixaram a perspectiva coletiva de lado. Permaneceram no âmbito privado, assim como parte da população chilena. A hibernação causada pelo o regime ditatorial não foi modificada em um momento político e cultural importante para os chilenos.
Supostamente, romances, crônicas, poemas, teriam se transformado apenas em micro histórias, gerando uma dissipação de temas. Em uma divisão apresentada por Rodrigo Cánovas os discursos públicos das gerações mais novas de escritores estariam limitados a duas perspectivas: uma ligada à cultura política entre 1975 e 1980, e outra, a partir da década de 1990, ligada a uma cultura mercadológica.
A primeira se caracteriza pela exclusão social e um sentimento contrário ao regime político oficial e cultura do período. Já a segunda se caracteriza por uma união social entre os escritores, mas sempre voltados para algo individualista e relevando o trabalho como literatos por lado profissional.
O embate é polêmico. Esse posicionamento não é compartilhado por todos, principalmente quando algumas análises dessas obras da década de 1990, sob a perspectiva da literatura engajada, revela a importância desses livros para a compreensão do Chile atual.
Justamente por isso, na próxima semana continuaremos abordando esse tema, com a conclusão do texto que se iniciou hoje, ressaltando uma contra opinião, nos utilizando das elucidações do engajamento literário.
Um comentário sobre “Chile e literatura: A crítica aos escritores do pós-ditadura”