Chile e literatura: A crítica aos escritores do pós-ditadura — Parte II

Na semana anterior começamos uma breve análise sobre a influência da ditadura na literatura do Chile e as críticas recebidas pelos escritores, em sua maioria, pertencentes ao grupo da nova narrativa chilena dos anos de 1990.

Sobre a divisão apresentada por Rodrigo Cánovas, no texto anterior, em relação às gerações de escritores de 1975–1980 e dos literatos de 1990, pode-se concluir que suas obras estavam cercadas pelo medo e repressão cultural imposta pela ditadura, resultando em apatia.

Essa apatia era transmitida em suas obras literárias através da instantaneidade das tramas, ou seja, seus enredos eram produzidos e focalizados em um instante, de forma rápida e repentina e logo se esvaneciam, sem uma problematização histórica mais profunda.

Não compartilho dessa visão, me parece mais uma crítica às opiniões públicas dos escritores, do que propriamente uma crítica ferrenha em relação à literatura. Obviamente considerando que, esses literatos escreveriam seus textos baseados naquilo em que acreditavam.

Parece representar também uma crítica à falta do aproveitamento de oportunidades para criar um sentimento nacional, logicamente coletivo. Talvez pensando nos benefícios que isso representasse para, por exemplo, reflexionar sobre os momentos vividos e quais os caminhos a população chilena traçaria dali para frente enquanto uma nação, soma de indivíduos.

Se formos considerar esse ponto como algo que deva carregar um sentimento de culpa, essa responsabilidade não pode ser apenas atribuída à literatura. Embora compreenda que, segundo essa perspectiva, as obras acadêmicas representaram um papel importante na criação do sentimento que falamos anteriormente.

Também não há falta de sentido histórico nos autores que destacamos, ou naqueles que pertencem à nova literatura chilena da década de 1990, pelo possível caráter imediatista de suas obras, baseados somente em experiências anteriores sem a capacidade de desenvolver um conhecimento objetivo, o que muitos chamam de solipsismo.

Sob a perspectiva da literatura engajada, alimentadas de grandes escritores como Sartre, Camus, Barthes, as obras do período que estamos comentando fomentam e incitam o debate na mente de seus leitores sobre o período da ditadura, compartilhando experiências individuais de seus escritores.

Essa é uma característica muito particular de textos realistas e tenha como pano de fundo uma temática social. Conversación en la Catedral de Vargas Llosa está baseado em suas experiências e aborda muito bem o cotidiano de indivíduos limenhos que convivem em meio à presença marcante da ditadura em todas as instâncias.

O quanto a crítica carrega um caráter político, não posso afirmar com clareza, mas negar a importância dessas obras para um reflexão maior sobre o passado, presente e qual futuro se deseja, seria um crime literário.

A instantaneidade é algo “previsto” nos cânones das obras engajadas, sem dúvida um ponto que gera muito debate, mas que não desvaloriza, de forma alguma, o comprometimento dessas obras com sua sociedade, buscando contribuir de alguma forma para o debate sobre os problemas do país.

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Publicado por

Mateus Sacoman

Professor universitário, historiador e músico.

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