Na oitava edição do Hay Festival na Colômbia, em um colóquio com o ensaísta Carlos Granés, na cidade de Cartagena, Mario Vargas Llosa anunciou que concluiu o romance El héroe discreto que deve ser lançado em breve.
A trama está ambientada no Peru atual e trabalha as questões cotidianas, envolvendo todo o contexto econômico, político e social do país. Segundo Vargas Llosa, hoje o país tem de fato uma democracia e uma ampla defesa pela liberdade.
Além disso, existe uma política de abertura de proteção da propriedade privada — uma de suas propostas quando concorreu à presidência em 1990 — o estímulo ao investimento, estímulo à criação de riqueza através da empresa privada, levando a sociedade peruana rumo ao progresso.
Toda essa mudança, esse desenvolvimento, gerou uma nova problemática. Segundo o próprio escritor gerou também novas tensões, muitas interrogações e uma instigante busca por respostas. Desse panorama é que floresceram situações e personagens que estarão presentes neste romance.
Pensar esse novo livro de Vargas Llosa como um retorno às origens é uma posição válida a se tomar, pois após a publicação de Conversación en La Catedral, de 1969, a produção do escritor peruano se distanciou de temas como a política e os problemas sociais do Peru. Para ser mais preciso suas obras iniciais — Los Jefes (1959), La ciudad e los perros (1962), La Casa Verde (1965), Los Cachorros (1968) — também tinham a sociedade peruana como tema central.
Não quer dizer, no entanto, que em suas obras posteriores o literato deixou seu compromisso de escritor engajado, preocupado com o período em que vive e um analista crítico de sua sociedade. Mas suas primeiras obras literárias, além dos ensaios e artigos, se constituíram, sem dúvidas, em vias para manifestação de suas interpretações sobre a realidade peruana e latino-americana que vivenciou, construindo para seus leitores uma imagem sobre o lugar de onde se estava escrevendo e as relações sociais nele existentes.
Seus romances expressaram também suas ideias políticas, entre tantas outras, e se tornam indispensáveis para uma abrangente compreensão sobre os debates intelectuais na literatura em determinado contexto em que essas obras se inseriam, versando sobre os mais diversos temas-problema, assumindo o compromisso com sua realidade social.
A expetativa para seu novo romance é grande. Se em suas primeiras obras o Peru parecia perdido, uma sociedade imersa nas desigualdades e prejuízos sociais, além de uma economia fraca e sem perspectivas de desenvolvimento, ou seja, manifestações dos males típicos que infestavam o Peru, herdeiro do colonialismo ibérico, das ditaduras e da corrupção endêmicas baseadas em ideologias que conservaram o país, e tantas outras nações latino-americanas, na periferia da modernidade e do autêntico liberalismo democrático.
Será que depois de tanto tempo, com seu novo livro El Héroe Discreto, Mario Vargas Llosa tem as respostas para o questionamento do personagem Santiago Zavala de Conversación en la Catedral “En que momento se jodió el Pérú?” e se realmente agora o país caminha no rumo certo? Vamos aguardar…