Albert Camus: um absurdo

Em 2013, comemora-se o centenário de nascimento de um dos mais importantes intelectuais e escritores da história: Albert Camus. Entre tantos artigos e ensaios, suas obras mais conhecidas são O Estrangeiro, A Peste e O Mito de Sísifo, além de sua peça em quatro atos, Calígula.

Como homem inserido em seu tempo, norteando-nos pelos vetores de integração da cultura política, é imprescindível, para a compreensão do que seriam as obras de Camus, conhecer sua vida e os lugares por onde passou.

Primeiramente, esses vetores, segundo Serge Berstein, para ficarmos em uma forma mais simples de explicação, são segmentos como a família, escola, universidade, exército, partidos políticos, que transmitem normas, referenciais, valores que se entrelaçam e constituem a formação do indivíduo ao longo de sua vida.

Camus nasceu na Argélia, mais precisamente em Mondovi. Lá encarou muito de perto problemas como a fome, doenças, guerras e o clima, já conhecido dessas regiões. Na primeira Guerra Mundial, seu pai faleceu em campo de batalha e ao longo do período em que viveu na Argélia conviveu com massacres, preconceitos e pobreza.

Tuberculoso, passou a encarar, como ele mesmo deixava explícito, a presença da morte em seu cotidiano e a mesma doença o impediu de praticar futebol, esporte que ele tanto gostava.

Quando esteve no Brasil, Camus aproveitou para assistir a um jogo de futebol e se espantou pela tamanha paixão dos brasileiros para com o esporte. Leitor de Nietzsche, Camus era anarquista, deixou o Partido Comunista por divergências e negava sempre o rótulo de existencialista.

A maioria dos elementos apresentados acima está presente em seus escritos. Por exemplo, mudou-se da Argélia por problemas com as autoridades nacionais por escrever artigos criticando os tratamentos e ações violentas que eram implementadas contra os árabes em seu país.

Em O Estrangeiro, Camus descreve as vicissitudes de um indivíduo que não consegue expressar seus sentimentos, vivendo a separação entre a razão, o sentimento e a emoção, conduzindo suas reações durante a vida sem uma razão.

Já com o ensaio literário O Mito de Sísifo, com uma análise mais filosófica sobre a condição humana, o escritor admite a futilidade e insignificância dos seres humanos perante o cosmos, e a falsa crença, de certa forma, de que sua ação poderia mudar o mundo.

O pensamento de Camus é vasto e riquíssimo para ser trabalhado apenas em um pequeno texto, mas vale ressaltar por fim, que Camus elaborou uma reflexão sobre a condição humana. Rechaçando a fórmula de um ato de fé em Deus, na história ou em uma razão. Opôs-se ao cristianismo, ao marxismo e ao existencialismo. Não deixou de lutar contra as ideologias e as abstrações que distanciavam o homem do humano.

A sua Filosofia do absurdo, ou, absurdismo foi um de seus legados, dentre tantos outros, que abordava os esforços realizados pelo ser humano para encontrar um significado absoluto dentro do contexto da vida em sociedade. Mas essa busca fracassa, pela inexistência de tal significado, caracterizando-se assim por seu ceticismo em torno dos princípios universais da existência.

Camus defendia que o significado da existência é a criação de um sentido bem particular, principalmente porque a vida é insignificante por si mesma. No entanto, essa falta de um significado maior da vida humana é, na verdade, um motivo de alegria e não de desolação, pois, então, cada indivíduo é livre para moldar sua vida, construindo o seu próprio futuro.

Escritor engajado, mas muito crítico dessa concepção e do alcance e validade (no sentido temporal) das obras engajadas, Camus preocupou-se e contribuiu muito para o pensamento da vida e, de certa forma, para a organização e constituição das sociedades.

Além disso, foi um profundo defensor dos valores como a justiça e a liberdade. Faleceu em 1960 devido a um acidente de carro, em uma viagem que faria de trem, aceitou a carona por insistência dos amigos. Foi, também, grande amigo de Sartre, pelo menos até 1952, mas essa já é outra história, para o próximo artigo.

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Publicado por

Mateus Sacoman

Professor universitário, historiador e músico.

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