Como Vargas Llosa costumeiramente enfatiza, os entendidos de realidade não são os acadêmicos, nem os jornalistas, que elaboram textos e pesquisas sobre a realidade de nossas sociedades. Quem, na verdade, entende de nossa realidade são os sonhadores, assim nomeava os literatos.
Quando os romances realmente são efetivos e se constituem verdadeiras formas para alimentar a insatisfação dos seres humanos, nos subjugam e nos extraem de nossas vidas, repletas de caos e confusão, fazendo-nos viver a experiência mágica da leitura de uma ficção como uma realidade.
Não por acaso, muitos pesquisadores — historiadores, sociólogos, etc. — dedicam-se, nas últimas décadas, a estudar romances e escritores para trabalhar com temas que buscam compreender determinada época ou acontecimento em diversos países.
Logicamente, os romances realistas possibilitam um trabalho mais aprofundado, pois lidam em seus enredos com questões que dominam os debates em nossas sociedades, ou como pano de fundo ou delatadas em suas superfícies. Além disso, possibilitam compreender a visão dos literatos, expressa nas entrelinhas dos textos.
Segundo o escritor peruano, através da experiência de contato com um romance realista, voltamos ao mundo com uma sensibilidade muito aguçada, penetrante, para compreender de forma mais ampla tudo aquilo que nos rodeia, para enxergar mais claramente as imposições e hierarquias entre o que é importante e o que de fato não é relevante, mantendo-nos sempre com uma atitude crítica.
Mesmo que o modos operandi da escrita do romance apresente um leque de opções, constantemente é possível ver nas intervenções atuais do escritor a vontade de avistar novos literatos que se preocupem com o mundo em que vivem, cooperando para que o campo literário venha a se enriquecer e possa contribuir para a sociedade, de uma forma ou de outra, atuando de fato através dos textos.
Dentro deste quadro, para que a literatura possa efetivamente contribuir para analisar a realidade, Vargas Llosa enxerga a necessidade de que os literatos continuem se engajando, refletindo e questionando, à luz dos mais diversos pontos de vistas políticos, norteados sempre pelo pensamento do que é escrever e, de modo impreterível, o porquê de se escrever e a importância da função de escritor; superando a barreira individual, de apenas cumprir um desejo pessoal.