Umas das grandes escritoras chilenas do período pós-ditadura, a chilena Ana María Del Rio nasceu em 1948 em Santiago, ganhando destaque nos anos de 1990 com seus romances e contos, além de sua defesa pelos direitos da mulher e suas críticas contra a dominação imposta pela sociedade machista.
Inserida por analistas no grupo da nova literatura chilena, Del Río formou-se em Pedagogia pela Universidad Católica de Chile, especializando-se em literatura pelas universidades americanas de Rice e Pittsburgh, atualmente é diretora acadêmica da Área Cultural do Grupo Behavior, no Chile.
Publicou importantes textos como Óxido de Carmen (1986), Siete días de la señora K. (1993), A tango abierto (1997), Lita, la niña del fin del mundo (2003), Pero ahora no es verano (2011), entre outros.
Dentre tantas publicações, Siete días de la señora K., chamou atenção da crítica literária por relatar a situação de repressão, nas apenas sexual, sofrida pela protagonista do romance. Como a escritora costumeiramente diz, “Verbalizei algo que não se verbaliza jamais, exceto nas consultas médicas”.
Ao longo da trama, a personagem parece estar presa em si mesma, imersa em um contexto que reprime qualquer possibilidade de liberdade e prazer às mulheres. Com a viagem de seu marido, passa a conhecer melhor seu corpo e mente, encontrando comprazeres jamais explorados.
Os setes dias do título do livro são o tempo que a senhora K. se viu longe de seu esposo e também de seus filhos que participavam de um acampamento de inverno. É nesse período que a protagonista encontra uma liberdade até então intangível, experimentando, inclusive, um encontro repentino com um jovem entregador de telegramas.
Até esse momento, a simples dona de casa vivia apenas para servir seu marido e nada mais. A própria incógnita de seu nome revela a inexistência de sua vida para além do casamento e dos serviços domésticos.
O romance, portanto, nos revela um panorama muito comum do papel da mulher na sociedade chilena que vivenciava uma fase de liberdade após a ditadura. No entanto, essa libertação para não atingir a porção feminina do país, que ainda permanece presa à ditadura do machismo.
O tom erótico da obra é marcante porque através dele, senhora K. encontra os primeiros caminhos de liberdade. Ao mesmo tempo em que procura o auto-conhecimento está atrelada à moral social que lhe impossibilita alcançar novas experiências para além de sua casa, ou seja, por mais que ela passe a conhecer certa liberdade, ela ainda está sujeita ao âmbito privado.
Essa, porém, é uma análise muito particular, entre tantas outras possíveis. Não há dúvida de que ao trabalhar uma questão muito presente no cotidiano da sociedade chilena e apresentar uma transgressão às regras, a escritora contribui com mais uma ferramenta de análise de seu tempo.
Contribui para despertar a consciência de seus leitores para preceitos e princípios pré-estabelecidos sem nenhum questionamento, em um clima que parece ser de liberdade, mas que está cercado de repressão, mesmo após o final da ditadura, revelando uma autonomia falsa, maquiada que parecem reprimir com maior força, neste caso, as mulheres.