Gonzalo Contreras é o típico escritor que decide suas próprias regras de escrita sem se importar completamente se o trabalho que iniciou será publicado, atrairá um grande público leitor ou venderá muito.
Nascido em Santiago, capital do Chile, no ano de 1958, Contreras se afirmou ao longo de sua carreira literária como um dos grandes escritores contemporâneos latino-americanos e, sem dúvidas, um nome essencial quando se fala nos escritores dos anos de 1990.
Seu primeiro livro publicado foi La danza ejecutada, cuentos, autoedición no ano de 1986 e constitui-se em uma compilação de contos e relatos. Em seguida, publicou o romance que o demarcaria como um escritor de talento, La ciudad anterior, vencedor do prêmio da Revista de Libros de El Mercúrio em 1991, publicado no mesmo ano.
No ano de 1995 publicou El nadador, vencedor do Premio del Consejo Nacional del Libro y la Lectura. Entretanto, atingiu o ápice da técnica e versatilidade com o romance El gran mal, publicado em 1998 e vencedor do mesmo prêmio que havia recebido anteriormente.
Conhecido por seu estilo direto, o chileno, talvez, se diferencie de alguns outros bons escritores de seu tempo por não se importar muito em representar grupos ou classes sociais em suas obras, prefere manter o foco nas características individuais de seus personagens e problematizá-las ao longo do enredo.
Isso não quer dizer que suas obras escapem aos contextos de escrita e aos contextos sociais abordados nas tramas dos romances e contos. Eles estão ali, diluídos, incitando o leitor a identificar algo maior, para além dos próprios traços apresentados.
Logicamente, a crítica literária costuma afirmar que boa parte de seus personagens são representantes da alta classe e homens bens sucedidos, mas Contreras emerge desse tipo de limitação imposta pelos críticos para mergulhar nas frustrações e embates emocionais, revelando uma desiludida realidade.
No fim, não importa muito as questões sobre grupos sociais, embora estejam ali, mas a individualidade de cada personagem que se somará ao enredo e à conjuntura do livro, que, por sua vez, pode ser analisada no contexto de nossa realidade.
Embora sempre seja incluído como um integrante do grupo geracional Nueva Narrativa Chilena de los noventa, Contreras nunca escondeu que sempre se portou como um escritor fora dessa “classificação”: “Eu não ando com nenhuma bandeira da Nueva Narrativa. Eu sempre fui uma república independente”, proferiu o escritor em uma entrevista ao jornal La Tercera em setembro de 2013. Ainda assim, jamais deixou de reconhecer a importância dos escritores desse grupo.
Com uma literatura insolente e sem rodeios, Contreras transmite uma finalidade clara: é preciso reflexionar mais, do que simplesmente entreter. Não por acaso, ao longo de sua carreira — ainda ativa — nunca se preocupou com os hiatos de suas publicações. Se não há algo importante a dizer e contribuir, é melhor que não seja dito!
“Se alguma vez nos anos noventa eu considerei a ideia de escritor profissional, essa ideia me repele cada dia mais. Esse escritor que apresenta um romance a cada dois anos, tendo algo a dizer ou não; um romance do qual você pode se arrepender, é algo que não quero nunca para mim.”