Albert Camus: um absurdo

Em 2013, comemora-se o centenário de nascimento de um dos mais importantes intelectuais e escritores da história: Albert Camus. Entre tantos artigos e ensaios, suas obras mais conhecidas são O Estrangeiro, A Peste e O Mito de Sísifo, além de sua peça em quatro atos, Calígula.

Como homem inserido em seu tempo, norteando-nos pelos vetores de integração da cultura política, é imprescindível, para a compreensão do que seriam as obras de Camus, conhecer sua vida e os lugares por onde passou.

Primeiramente, esses vetores, segundo Serge Berstein, para ficarmos em uma forma mais simples de explicação, são segmentos como a família, escola, universidade, exército, partidos políticos, que transmitem normas, referenciais, valores que se entrelaçam e constituem a formação do indivíduo ao longo de sua vida.

Camus nasceu na Argélia, mais precisamente em Mondovi. Lá encarou muito de perto problemas como a fome, doenças, guerras e o clima, já conhecido dessas regiões. Na primeira Guerra Mundial, seu pai faleceu em campo de batalha e ao longo do período em que viveu na Argélia conviveu com massacres, preconceitos e pobreza.

Tuberculoso, passou a encarar, como ele mesmo deixava explícito, a presença da morte em seu cotidiano e a mesma doença o impediu de praticar futebol, esporte que ele tanto gostava.

Quando esteve no Brasil, Camus aproveitou para assistir a um jogo de futebol e se espantou pela tamanha paixão dos brasileiros para com o esporte. Leitor de Nietzsche, Camus era anarquista, deixou o Partido Comunista por divergências e negava sempre o rótulo de existencialista.

A maioria dos elementos apresentados acima está presente em seus escritos. Por exemplo, mudou-se da Argélia por problemas com as autoridades nacionais por escrever artigos criticando os tratamentos e ações violentas que eram implementadas contra os árabes em seu país.

Em O Estrangeiro, Camus descreve as vicissitudes de um indivíduo que não consegue expressar seus sentimentos, vivendo a separação entre a razão, o sentimento e a emoção, conduzindo suas reações durante a vida sem uma razão.

Já com o ensaio literário O Mito de Sísifo, com uma análise mais filosófica sobre a condição humana, o escritor admite a futilidade e insignificância dos seres humanos perante o cosmos, e a falsa crença, de certa forma, de que sua ação poderia mudar o mundo.

O pensamento de Camus é vasto e riquíssimo para ser trabalhado apenas em um pequeno texto, mas vale ressaltar por fim, que Camus elaborou uma reflexão sobre a condição humana. Rechaçando a fórmula de um ato de fé em Deus, na história ou em uma razão. Opôs-se ao cristianismo, ao marxismo e ao existencialismo. Não deixou de lutar contra as ideologias e as abstrações que distanciavam o homem do humano.

A sua Filosofia do absurdo, ou, absurdismo foi um de seus legados, dentre tantos outros, que abordava os esforços realizados pelo ser humano para encontrar um significado absoluto dentro do contexto da vida em sociedade. Mas essa busca fracassa, pela inexistência de tal significado, caracterizando-se assim por seu ceticismo em torno dos princípios universais da existência.

Camus defendia que o significado da existência é a criação de um sentido bem particular, principalmente porque a vida é insignificante por si mesma. No entanto, essa falta de um significado maior da vida humana é, na verdade, um motivo de alegria e não de desolação, pois, então, cada indivíduo é livre para moldar sua vida, construindo o seu próprio futuro.

Escritor engajado, mas muito crítico dessa concepção e do alcance e validade (no sentido temporal) das obras engajadas, Camus preocupou-se e contribuiu muito para o pensamento da vida e, de certa forma, para a organização e constituição das sociedades.

Além disso, foi um profundo defensor dos valores como a justiça e a liberdade. Faleceu em 1960 devido a um acidente de carro, em uma viagem que faria de trem, aceitou a carona por insistência dos amigos. Foi, também, grande amigo de Sartre, pelo menos até 1952, mas essa já é outra história, para o próximo artigo.

Um pouco sobre a verdade das mentiras — Vargas Llosa

A importância dos romances para se compreender uma época é sempre discutida. Muitos acreditam na viabilidade do uso das ficções como fonte de um determinado período, embora alguns ainda insistam em refutar essa ideia.

Na verdade, o ponto inicial são os tipos de romance, como sempre discutimos nos textos desta coluna. Obras realistas, engajadas, que trabalhem com temas políticos, sociais e culturais são extremamente úteis e enriquecedoras para a compreensão de uma sociedade. Esses romances não são confeccionados simplesmente para contar histórias da vida, mas sim para transformá-las, como bem diz Vargas Llosa.

Ainda assim, esses romances são ficção e como tal, há mentiras nas verdades do enredo. Pode-se pensar nos textos ficcionais como uma espécie de simulacro da vida real, mas que reflete a existência e as questões de nosso mundo, por exemplo, contextos como crises políticas e sociais, ditaduras, etc.

Por ser uma trama, os romances tem um início e fim, por mais que se formem trilogias. Esses textos nos fornecem uma perspectiva que a vida verdadeira que vivemos cotidianamente, nem sempre nos pode fornecer ou até nos nega. Através da ficção podemos nos atentar e refletir sobre questões importantes que nos atingem. Essa mentira pode nos ajudar a entender o real que está ao nosso redor.

Na perspectiva vargasllosiana a recomposição do passado nas obras literária é quase sempre falaz, mas ressalto o sentido de ardilosa (astúcia) e não somente de enganadora. É fato que a verdade literária é uma e a verdade histórica é outra.

No entanto, ainda que esteja abarrotada de mentiras a literatura nos fornece uma história que a História (de nós historiadores), não pode fornecer e não tem meios para isso, pensando em seus métodos enquanto ciência.

A verdade literária é um complemento do real. As verdades subjetivas da literatura tornam possível resgatar uma pequena parte da nossa memória, da nossa história. A verdade história é primordial para que lembremos sempre do que fomos e somos.

Já a verdade da literatura pode nos revelar o que quisemos ser e não pudemos; a forma de que poderíamos ter agido, mas não fizemos. Portanto, essa história secreta só a literatura pode constituir, pode nos contar.

Talvez aí resida o fascínio humano pelas ficções mais realistas (àquelas histórias que podemos enxergar muito bem quando saímos à rua, quando visitamos um determinado local), poder viver aquilo que não vivemos, não tivemos coragem ou oportunidade, ou simplesmente “espiar” através das páginas a vida de alguém que colocou em prática tudo aquilo que pudemos.

Assim, a literatura torna-se um questionamento do mundo, é sediciosa, insubmissa e revoltada. Nela vivemos um mundo, não muito longe do nosso, mas em que há a possibilidade de transgredir as leis (e não estou falando do aspecto jurídico) que regem a vida cotidiana. Possibilita-nos, ainda que apenas no instante da leitura, nos libertar do espaço-tempo real.

Por fim, não resta dúvida nenhuma,que a “irrealidade” criada pela literatura, “irrealidade” porque ele bebe da fonte do real,juntamente com as mentiras astuciosas,é um importante meio para conhecermos as verdades penetrantes (e também mentirosas, porque o mundo real está cheio de mentiras) do nosso mundo.

As verdades reveladas pela literatura nem sempre são encantadoras, denunciando uma face perversa dos atos humanos, mas nem por isso falsa.

Vargas Llosa x García Márquez, briga literária?

Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez são dois importantes escritores latino-americanos, mundialmente conhecidos e vencedores do prêmio Nobel de literatura. Surgiram e estiveram imersos no boom literário latino-americano na década de 1960, quando se tornaram grandes amigos.

Houve um tempo em que os escritores deste mesmo grupo, dos quais podemos acrescentar ainda Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Carlos Fuentes e Alejo Carpentier, formaram a chamada família do boom. Reuniam-se para beber, fala dar vida, discutir literatura, política, tamanha a conexão que mantinham.

Vargas Llosa e García Márquez se admiravam, ambos escreviam um sobre o outro de forma crítica, mas muito respeitosa, produzindo grandes textos como o ensaio, primeiramente apresentado como tese doutoral, do escritor peruano sobre as obras de seu amigo colombiano em 1971: García Márquez: historia de un deicidio.

Gabriel tornou-se padrinho do segundo filho de Vargas Llosa. Além disso, o contexto político na América Latina e suas respectivas ideologias os uniam. Estavam do mesmo lado, “lutando pela esquerda”. Socialistas, apoiaram a Revolução Cubana de 1959 e estabeleceram uma grande amizade com Fidel Castro.

No entanto, em 12 de fevereiro de 1976, em uma noite de avant-premiere de um filme no México, García Márquez foi cumprimentar o grande amigo de braços abertos, mas Vargas Llosa não hesitou em desferir um golpe de direita que deixou o colombiano praticamente nocauteado. Acabava ali a amizade.

Os dois nunca mais falaram nisso. Mas antes de entrar no verdadeiro motivo, é importante salientar que os amigos já não eram tão unidos assim quando em 1971 Vargas Llosa rompeu com a esquerda alegando que o regime já não garantia a liberdade tão necessária para o desenvolvimento da democracia.

O estopim foi o Caso Padilla em 1971, quando o escritor cubano Heberto Padilla foi preso por denunciar as mazelas do regime cubano e, sob pressão, foi obrigado se desmentir.

Vargas Llosa e outros escritores elaboraram um manifesto direcionado a Fidel Castro, que proibiu os escritores latino-americanos que viviam na Europa de adentrarem em Cuba. Anos antes, o escritor já havia criticado o apoio de Cuba à invasão russa à Tchecoslováquia.

No entanto, o motivo principal que ninguém se dispôs a esclarecer de forma escancarada volta-se para questões de relacionamento conjugal, ou, neste caso, extraconjugal. Muitos veículos ousaram dizer que o motivo foi o ciúme de Vargas Llosa.

Naquele momento, o casamento do escritor peruano não andava bem. Isso é verdade. Embora nunca tenha sido confirmado, diz-se que Vargas Llosa manteve um affair com uma aeromoça, supostamente de um país nórdico, afastando-se de sua esposa Patrícia Llosa.

Em meio a essa situação, García Márquez, como amigo da família, prestou apoio à esposa de Vargas Llosa, aconselhando-a. Isso é verdade. O que não se confirma é que o escritor colombiano rompeu a barreira dos conselhos e “avançou o sinal”.

Independente do real motivo, o que se tem de concreto foi a separação de dois grandes escritores, que embora não tenham se falado mais, nem comentado sobre o assunto, não deixaram de comentar em entrevistas e debates literários sobre os trabalhos e ideias um do outro. Por fim, restou-nos todo o precioso material gerado pelos dois escritores até hoje. Quem não perdeu com essa briga foi a Literatura.

Ensaio literário e a intervenção na América Hispânica

Não é novidade nenhuma que a literatura pode contribuir imensamente para o debate das questões de grande importância para o presente e futuro das sociedades nas áreas como a cultura, economia, política e social.

Na América Latina, principalmente na primeira metade do século XX, muitos literatos foram convocados para as discussões intelectuais, intervindo diretamente em suas comunidades através de obras engajadas, propondo soluções para os problemas pelos quais enfrentavam conjuntamente.

Ainda que muitos gêneros literários tenham participado das contendas sociais, o ensaio, principalmente na América Hispânica, ganhou destaque e respeito da intelectualidade e sociedade civil como uma porta para proposição de soluções e elucidações, diferentemente do Brasil, onde até hoje este gênero é visto com maus olhos pelo meio acadêmico, acusado de não conter um rigor científico e de não propiciar uma colaboração efetiva.

Embora tenhamos figuras importantes como Manuel Bonfim, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, etc.

Historicamente o gênero foi “inaugurado” pelo importante escritor uruguaio José Henrique Rodó, com o ensaio Ariel, em 1900. Seu texto era voltado diretamente aos jovens das nações hispano-americanas, recomendando uma cultura de los sentimientos estéticos frente ao perigoso utilitarismo e nordomanía.

Ao longo da obra Rodó usou personagens de William Shakespeare, do livro A Tempestade, são eles: Calibán, Próspero e Ariel. Ressaltando que no período de emancipação das nações latino-americanas, iniciando-se por volta de 1810, alguns ensaios incipientes já circulavam pela região.

Muitas são as definições para o ensaio, inclusive algumas subdivisões como ensaio literário, acadêmico, periódico. Especificamente sobre o literário, tem um caráter dialogante com seu leitor e volta-se totalmente para a realidade presente.

Dentro da perspectiva da literatura engajada, que nos interessa aqui, Benoît Denis indica que o ensaio não tem a intensão de alcançar um cientificismo, é marcado por uma retórica do eu subjetivo, explorando a vivência do escritor enquanto sujeito social.

Apenas para conhecimento, outros importantes escritores que fizeram uso do ensaio na América Hispânica foram Andrés Bello, Domingo Faustino Sarmiento, José Martí, Octavio Paz, Ángel Rama e José Carlos Mariátegui. Já na geração do boom, Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, José Donoso, José Lezama Lima, Jorge Amado, Augusto Roa Bastos e Mario Vargas Llosa.

Dentro do panorama apresentado em muitos dos textos da sessão Literatura e História, sobre a importância da literatura para além do entretenimento, o ensaio é mais um importante instrumento, dentre tantos outros, para o entendimento das sociedades e seus acontecimentos nas nações da América Latina, contribuindo para a reflexão e formação de opinião dos leitores, colaborando para a construção dos indivíduos enquanto cidadãos.

Entre Sartre e Simone de Beauvoir

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir são figuras ímpares. O pensamento de ambos marcou o século XX de tal forma que, para compreendê-lo a partir de uma perspectiva multidisciplinar, é imprescindível conhecer os textos dessas duas grandes figuras intelectuais, tanto por suas obras literárias e filosóficas, quanto por suas histórias de vida. Ambos conseguiram ser premiados com o Nobel de Literatura.

Os dois escritores se conheceram em 1928 na Universidade de Paris, quando Sartre se preparava pela segunda vez para tentar ingressar no mestrado em Filosofia. Simone era namorada de seu amigo René Maheu. Em 1929, o casal, ainda não unido, conseguiu aprovação para iniciar os estudos de pós-graduação.

O tempo passou e tornaram-se muito próximos. Havia muito mais do que literatura e filosofia naquela relação. Simone revisava e debatia os textos que Sartre escrevia. Este lia, relia e opinava sobres os textos de sua parceira.

A sintonia do casal era escancarada, tanto nas questões intelectuais, quanto amorosa e sexuais. Há quem os demarque como existencialistas, mas Sartre não concordava muito com essa possibilidade.

As cartas trocadas revelavam seus pontos de vista filosóficos e literários, aventuras amorosas, conteúdos repletos de sensualidade, revelando-nos assim um relacionamento excêntrico. Nunca se casaram, mas viveram uma conexão muito forte e respeito mútuo dentro de suas concepções. Sim, eram uma casal, mas não nos moldes tradicionais.

Não havia mentira ali. Ambos eram livres para ter relações com outras pessoas e ambos comunicavam isso. A união não os impedia de se relacionar amorosamente com outros, mas era preciso comunicar. Aliás, era comum o casal viajar com seus respectivos amantes.

Outro laço de união era a questão do engajamento. Ambos faziam uso de seus textos literários como oportunidades para alertar seus leitores para as mazelas de sua sociedade: injustiças, preconceitos, violência. Posicionaram-se à esquerda quando a Segunda Guerra Mundial acabou e a Guerra Fria se iniciou.

Empreitaram-se na fundação da conhecida revista Le Temps Modernes e no jornal libertário Libértacion. E jamais deixaram de defender a liberdade, segundo as suas concepções, embora nem sempre partissem de um mesmo ponto e chegassem a conclusões diferentes.

Talvez a obra que mais presente os anos de união seja A cerimônia do adeus, obra publicada por Simone de Beauvoir, depois da morte de Sartre. Nele, a escritora conta os últimos anos de Sartre, baseados em conversas com amigos, em um diário da própria autora e entrevista com o escritor.

O tom do texto é de admiração e de um sentimento de vazio. Beauvoir relata a importância de Sartre para a humanidade, escreve sobre o seu cotidiano, das coisas mais simples às complexas.

Conta-nos também o fim do intelectual, como foi perdendo sua vitalidade, morrendo pouco a pouco. Por fim, comenta sobre o episódio de seu funeral, que atraiu mais de 50 mil pessoas em 19 de abril de 1980. Encerrava-se ali mais de 50 anos de relação.

A morte de Sartre foi um duro golpe, muito contam até hoje que a escritora tentou se deitar em baixo dos lençóis, ao lado do corpo do escritor no hospital. Restou a ela escrever:

“Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo.”

Em 14 de abril de 1986, Simone de Beauvoir faleceu devido a uma pneumonia em Paris, com 78 anos de idade. Foi sepultada no mesmo túmulo de Jean-Paul Sartre no Cemitério de Montparnasse, na mesma cidade.

Do casal, restou-nos, e ainda bem, seus pensamentos, textos filosóficos, romances, entrevistas, ensaios, e uma história de vida. Elementos que resistiram à virada do século e alimentam nossas mentes até hoje.

Escritores engajados x presidentes nervosos: Vargas Llosa e Evo Morales

Não há prova maior da importância dos intelectuais da literatura para a vida política dos países quando encontramos as seguintes manchetes: “Evo Morales diz que Vargas Llosa irá a Bolívia para criticar seu governo” e “Evo Morales, nervioso por la visita de Vargas Llosa a Bolivia”. Por que deveria um presidente de um país, tamanho o seu posto, se preocupar tanto com um simples escritor que visitará sua nação?

Tudo começou com o anúncio de que Mario Vargas Llosa, entre os dias 22 e 28 de janeiro deste ano, fará uma visita à Bolívia para realizar conferências. Visitará também Santa Cruz e as missões jesuítas.

Em discurso para alguns petroleiros, Evo disse: “Tenho informação de que nos próximos dias chegará Vargas Llosa a Santa Cruz, como sempre para falar contra Evo, contra nós, contra o governo, contra a Bolívia“.

O escritor peruano visita o país a pedido da Fundación Nueva Democracia e se reunirá com o governador de Santa Cruz, o opositor Rubén Costas, que provavelmente será candidato nas próximas eleições presidenciais contra Evo.

Vargas Llosa constantemente critica o governo boliviano por suas ações autoritárias e antidemocráticas. Como bem costuma dizer, países como a Bolívia, Venezuela, Nicarágua são semidemocracias infectadas de populismo e autoritarismo. Mas todos sabem que o abandono do socialismo e o comunismo pelo escritor é o que ainda incomoda a esquerda latino-americana.

O peruano sempre defendeu que os escritores devem se engajar através da literatura e participar dos grandes debates de sua sociedade. No entanto, quando os governos não asseguram a liberdade para que os literatos se expressem e implementam ações ferrenhas, é quase impossível existir engajamento.

Sem liberdade e democracia, uma literatura que possa ser utilizada para algo a mais do que simplesmente entreter, fica impossibilitada de agir com maior eficácia. Em algumas ditaduras, como as da América Latina no século XX, através das ficções, romances, ensaios, foi possível passar pela barreira militar e alertar os leitores para as mazelas das sociedades.

Mas há países em que a perseguição aos escritores se torna maçante e nem mesmo os romances conseguem romper o bloqueio da censura. Com o mundo globalizado e a internet, ficou mais fácil que os literatos se manifestem sobre a política, a economia, os problemas sociais, ainda que estejam em exílio.

A verdade é que desde o aparecimento da literatura como um campo autônomo em 1850 e o desenvolvimento dos intelectuais desde o caso Dreyfus, os literatos alicerçaram passo a passo, através de seus romances, poemas ou simples pensamentos a possibilidade de suas opiniões serem consideradas pela mídia, governos ou cidadãos.

É de extrema importância que escritor engajado atue na sociedade, usando seu prestígio como escritor para interver nos problemas sociais.

Além de a literatura proporcionar excelentes livros, que nos ajudam a compreender momentos importantes da nossa história, ela colabora também para que intelectuais responsáveis para com suas sociedades e com suas nações consigam espaço para se comunicar, oferecendo soluções para os nossos problemas ou contribuindo no debate intelectual na tentativa de solver nossas mazelas.

Juan Gelman, o poeta da dor

Um dos maiores poetas argentinos, Juan Gelman, nascido em Buenos Aires em 1930, faleceu dia 14 de janeiro deste ano na Cidade do México. Foi ganhador de grandes prêmios mundiais de literatura, entre eles o Premio Cervantes em 2007, o Premio de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo em 2000 e o prêmio Pablo Neruda em 2005.

Gelman, desde muito cedo, começou a escrever os seus poemas, mais precisamente aos oito anos de idade, com onze, publicou o seu primeiro na revista Rojo y Negro, em 1941. Além de periodista, foi apoiador da Revolução Cubana de 1959, participou das FAR, Fuerzas Armadas Revolucionarias na Argentina, no final da década de 1960 e dos Montoneros, uma organização guerrilheira de esquerda peronista que implementou luta armada entre 1970 e 1979.

Suas principais obras são Violín y otras cuestiones (1956) El juego en que andamos (1959), Velorio del solo (1961), Gotán (1962), Cólera buey (1964), Hacia el sur (1982), Incompletamente (1997), Valer la pena (2001), País que fue será (2004), entre outros.

Juan Gelman sempre desenvolveu uma poesia dedicada às belezas da vida, à simplicidade, ao amor e à paixão, mas de forma avassaladora e de inconformidade. Mesmo trabalhando temáticas como essa, ficou conhecido como o expressionista da dor ou poeta da dor, por assumir uma escrita resiliente, ou seja, capaz de se colocar no lugar de outros, se compadecer com a dor alheia.

“Al amor, sueño eterno y poderoso, el destino furioso lo cambié.” (Rojo y Negro, 1941)

Podemos incluir o escritor como um literato engajado que também desenvolveu em sua escrita preocupações com a justiça social, igualdade e maneiras de relatar as mazelas de seu país ou de outros governos ditatoriais.

“Ha muerto un hombre y están juntando su sangre en cucharitas
querido Juan, has muerto finalmente.
De nada te valieron tus pedazos
mojados en ternura.
Cómo ha sido posible
que te fueras por un agujerito
y nadie haya puesto el dedo
para que te quedaras…”
(Gotán, 1962)

Perseguido e ameaçado de morte pela Aliança Anticomunista Argentina, precisou se exilar em 1975, rumando à Europa. No ano seguinte, seus filhos Nora Eva e Marcelo Ariel, além de sua nora Claudia García, grávida, foram seqüestrados a mando do governo militar.

Nascida no cativeiro, sua neta foi levada a Montevidéu de forma clandestina e lá foi criada. Seu filho foi torturado e morto, sendo seu corpo encontrado em 1990 em um tambor com cimento. Foi assassinado com um tiro na cabeça. Após dar a luz, Claudia também foi assassinada.

Depois da tragédia, Gelman passou a escrever cartas, ensaios, artigos, denunciando violações dos direitos humanos cometidas na Argentina pela ditadura. Voltou para o país, foi preso e com a ajuda de protestos intelectuais, como dos escritores Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Octavio Paz, entre outros, foi libertado mediante pagamento de fiança.

Juan Gelman mudou-se para o México, onde faleceu. Deixou a marca de esperança por um futuro melhor para o mundo e um legado de luta contra as injustiças, sejam elas sociais, econômicas ou políticas. Partiu antes de ganhar um prêmio Nobel — merecidamente em minha opinião –, mas suas lições de vida e literatura são maiores que isso.

O caso Padilla: um dos mais relevantes poetas cubanos do século XX

Heberto Padilla foi um grande escritor cubano e um dos mais relevantes poetas do século XX. Nascido em Puerta del Golpe, no ano de 1932, é conhecido por seus poemas, mas se propôs a escrever também alguns romances.

Entre suas obras poéticas de maior destaque estão Las rosas audaces (1949), Fuera del juego (1968), Provocaciones(1973), El hombre junto al mar (1981) e Un puente, una casa de piedra (1998). Já suas obras narrativas publicadas foram El buscavidas (1963), En mi jardín pastan los héroes (1981) e Prohibido el gato (1989).

Do ponto de vista literário, Padilla é analisado por estudiosos como um escritor de poemas conversacionais. Esse tipo de poema tem como característica o uso da linguagem coloquial, embora ela nem sempre apareça em todos os fragmentos, se apresentando como um diálogo entre a primeira pessoa com a terceira pessoa do singular.

Sua intenção pode ser informativa ou de alerta, revestida de alguns extra-elementos, como por exemplo, os que se fazem presentes nos textos de periódicos. Geralmente está intimamente conectada com a realidade política e social da sociedade da qual pertencem os personagens ou tema.

Padilla sempre esteve ao lado da Revolução Cubana, era um dos grandes apoiadores de Fidel Castro, justamente por isso dedicou alguns anos de sua vida para trabalhar e conhecer a União Soviética na década de 1960. Porém, em 1966 voltou de lá com uma outra visão sobre as ações desenvolvidas pelo governo soviético, desencantando-se com a esquerda.

No ano de 1968, o escritor cubano publicou uma obra chamada Fuera del juego. Nela, em tom crítico, relatava as mazelas do governo de seu país e reprova suas ações. O livro recebeu o Premio Julián del Casal, de la Unión de Escritores y Artistas de Cuba (UNEAC), por decisão unânime dos jurados.

No entanto, a direção da instituição pressionou os jurados para que o voto fosse modificado em uma reunião posterior e a publicação do texto vencedor fosse revogada. A decisão foi mantida, mas os diretores incluíram um nota relatando que o conteúdo do texto era ideologicamente contrario às intenções da Revolução.

Já muito criticado, em 20 de março de 1971, após o recital de sua nova obra Provocaciones na Unión de Escritores, foi preso juntamente com sua esposa, a poetisa Belkis Cuza Malé, sob a acusação de subversão contra o governo cubano.

O fato gerou revolta em intelectuais e escritores no mundo inteiro. Cartas e protestos foram realizados por figuras importantes da literatura como Jean-Paul Sartre, Julio Cortázar, Simone de Beauvoir, García Márquez, Marguerite Duras, Carlos Fuentes, Octavio Paz, Mario Vargas Llosa, entre tantos outros.

Além dos protestos, muitos escritores abandonaram os ideias revolucionários, como Octavio Paz, Mario Vargas Llosa, Susan Sontag, etc. O fator principal citado na maioria dos casos era de que o socialismo cubano já não garantia mais o respeito à liberdade de expressão e à dignidade dos escritores, assim também como o direito à crítica, que veio a garantir um dia.

Não bastasse isso, após trinta e oito dias de reclusão, Padilla foi obrigado a redigir e ler novamente na Unión de Escritores uma retratação chamada Autocrítica, em que renegava suas críticas feitas anteriormente.

Além disso, as declarações de depreciação, feitas por Fidel Castro sobre os intelectuais e a literatura no Congresso Nacional de Educación y Cultura, também 1971, levaram alguns escritores a crer que o socialismo já não permitia a possibilidade de justiça social e, de forma alguma, respeitava a dignidade dos indivíduos e muito menos a liberdade de imprensa.

Muito embora, ainda existisse outro fator relevante: a proibição de entrada em Cuba, por tempo indeterminado, imposta por Fidel Castro aos escritores latino-americanos que viviam na Europa.

Padilla tentou inúmeras vezes receber a permissão de Cuba para se exilar. Após pressão internacional e intervenção do senador americano Edward Kennedy em 1980, conseguiu partir para os EUA.

Manteve-se escrevendo, participando de encontros literários e políticos. Mas como sua esposa gostava de lembrar, desde a prisão, Padilla já não era o mesmo, principalmente porque o escritor passou a receber críticas também de opositores ao regime por ter se pronunciado contra o embargo econômico a Cuba na segunda metade de década de 1990.

Em 1995 Cuza Malé separou-se de Padilla. Com graves problemas de saúde, em 1997, sofreu um infarto, restringindo fortemente suas atividades literárias, embora tenha continuado a dar aulas. Em 25 de setembro de 2000, veio a falecer em Auburn, Alabama.

Simplesmente… Simone de Beauvoir

É difícil descrever Simone de Beauvoir em relação a suas atividades porque ela não foi apenas uma escritora. Foi, sem dúvida nenhuma, personagem marcante na luta pelos direitos das mulheres, mas não há como demarcá-la somente como feminista porque seus textos literários, filosóficos, romances ou ensaios, são fontes importantes e enriquecedoras para entendermos nosso tempo.

Nascida em 9 de janeiro de 1908 em Paris, Simone Ernestine Lucie Marie Bertrand de Beauvoir desenvolveu suas concepções dentro da escola filosófica existencialista, voltando seu pensamento para o sujeito humano, responsável por si mesmo, considerando seus sentimentos e vivências, na busca e garantia de uma condição de liberdade.

Segundo Márcia Regina Viana: “No pensamento de Simone de Beauvoir, são observados dois pilares fundamentais de sustentação: um positivo, que é a assunção da liberdade e um negativo, que é a demissão desta condição de ser livre.

A trajetória humana constitui-se como resultado da dialética íntima entre estas duas escolhas que o ser pode realizar: constituir-se um sujeito livre ou demitir-se dessa liberdade. O ser é, quando é livre para ser. Entretanto, quando escolhe não ser, demite-se de sua liberdade, mas continua existindo, sendo alguma coisa”.

Como romances, seus principais livros são L’Invitée (A convidada) de 1943, Le Sang des autres (O sangue dos outros) de 1944 e Les Mandarins (Os mandarins) de 1954. Já em relação aos ensaios, o mais conhecido do campo filósico é Le Deuxiême Sexe — les faits et les mythes (O Segundo Sexo) de 1949, além de Le Sang des autres (O sangue dos outros) de 1945 e La Vieillesse (A Velhice) de 1970.

Suas obras de caráter autobiográficos também ganharam muito destaque, como Mémoires d’une jeune fille rangée(Memórias de uma moça bem-comportada) de 1958, La Force des choses (A força das coisas) de 1963 e Tout compte fait (Tudo dito e feito) de 1972.

Imersas no pós-guerra, suas obras revelam uma ânsia pela consolidação da liberdade e individualidade humana. Além da liberdade, outros dois pontos conhecidos são essenciais para compreender seus textos: a ação e a responsabilidade individual, que, muitas vezes, se traduziam como proposições contraditórias, paradoxais.

Mas não somente isso, ao longo de sua vida desenvolveu pensamentos e críticas sobre o papel da mulher na sociedade, a postura e conduta dos indivíduos perante os idosos, assim como questões políticas, ideológicas e sociais, embora essas três estivessem sempre interligadas.

Sua obra o Segundo Sexo é considerada um ponto-chave para o feminismo, por desenvolver elementos importantes, de embasamento para o movimento, em que a escritora aborda a situação das mulheres ao longo da história, como eram vistas e de que forma poderiam lutar por mais liberdade, desenvolver um papel primordial dentro de suas sociedade.

Já o livro Os Mandarins, considerado por muitos sua melhor obra, reflete o período em Paris após a Segunda Guerra Mundial, os embates ideológicos e a temática feminista também, relatando a vida de um casal de escritores, muito provavelmente Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, com quem viveu boa parte de sua vida uma relação aberta.

Estavam juntos, mais isso não os impedia de se relacionar amorosamente com outras pessoas de forma clara. Inclusive, não os impedia também de fazer viagens juntos com seus respectivos amantes, mas essa é uma outra história.

Por fim, embora seja difícil descrevê-la, Simone de Beauvoir é um arquétipo de personagem memorável, universal e imortal, que quando se fala sobre ele, já vem à mente toda uma história, características marcantes e situações excêntricas.

Apenas seu sobrenome já nos remete a uma série de temas como a literatura, liberdade, feminismo, existencialismo, etc. E diante de tudo isso, pouco importa defini-la, importa mesmo é apreciá-la.

Novo ano, velhos problemas: pequeno retrato da leitura no Brasil

Um novo ano chegou e o desafio de tornar o Brasil solidamente um país de leitores continua. O Instituto Pró-Livro tem desenvolvido em excelente trabalho, preocupando-se cada vez mais em agir para a população brasileira se aproxime cada vez mais da literatura e, o principal, que essa seja uma atividade cotidianamente prazerosa.

Desde 2001, o Instituto, em parceria com o Ibope, vem desenvolvendo um grande projeto de pesquisa com a intenção de traçar o perfil dos brasileiros quando o tema é leitura. De lá para cá, três grandes análises foram divulgadas com importantes questionamentos, incluindo os anos de 2008 e 2012.

Na terceira edição, com dados de 2011, o documento revela que o ato de ler aparece como a sétima atividade que a população faria em seu tempo livre. Em primeiro, como era de se esperar, está assistir televisão. No estudo anterior, a porcentagem era de 37%, caindo para 28%. Navegar na internet aparece logo atrás, mas a tendência é que no próximo estudo, ultrapasse a apreciação dos livros.

Em relação à leitura entre os brasileiros, é preciso destacar as definições: “Leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses”. E, “Não-leitor é aquele que não leu, nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12”. Levando-se em consideração a data da pesquisa desenvolvida em todo o país.

Os dados informam que o Brasil detém 88,2 milhões, ou seja, cerca de 50% da população naquele período. As mulheres leem mais que os homens e, fomentados pelas escolas, a maior porcentagem de leitores contra não-leitores por idade está entre os cinco anos até os 17. A partir dos 25 anos, aqueles que não leem já superam os leitores.

Sob o ponto de vista dos setores sociais, as classes D e E, tomam pouco contato com a leitura, mas o índice já é alarmante com o grupo C. Ao mesmo tempo que o Sudeste concentra a maior porcentagem de leitores, também açambarca a maioria dos não-leitores. A média de livros lidos em geral é de 1,85 nos últimos 3 meses, apenas 0,82 foram lidos inteiramente. Portanto, a número de dois livros não chegou a ser alcançado.

Em relação aos gêneros mais lidos, primeiro a Bíblia, posteriormente, Livros Didáticos, Romances, Livros religiosos, Contos, etc. Ensaios e ciências ocupam as colocações de baixo.

Enfim, há uma série de dados que muito nos revela sobre o “quadro de leitura” no Brasil, entretanto, o mais alarmante é que as pessoas simplesmente preferem não ler por falta de tempo ou interesse. E quando analisamos os principais influenciadores no processo de leitura, vemos citados os professores e as mães.

Com essas informações precisamos desenvolver políticas de incentivo à leitura nas escolas, mas a obrigatoriedade dos livros tem gerado desinteresse aos alunos. Dessa forma, precisamos encontrar mecanismos para as crianças desde muito novinhas, tomem contato com a leitura e isso deve começar em seu ambiente familiar.

É essencial que os pais trabalhem conjuntamente nessa atividade. Enquanto seus filhos não sabem ler, é preciso que se leia para eles, as crianças podem ser alimentadas nesse quesito simplesmente apenas vendo que seus pais estão lendo constantemente.

E então, em um segundo instante, cabe ao professor estimular a leitura nos pequenos, de preferência utilizando-se de associações positivas, psicologicamente falando, desenvolvendo situações que ficarão associadas com o prazer e não com a irritação ou chateação.

Outro ponto é que as crianças quase nunca são presenteadas com livros e a maioria dos leitores foi taxativa em afirmar que ganhar obras literárias exerceu grande influência no interesse pela leitura. Quase todos nós concordamos que quando éramos menores, se o presente não fosse brinquedo, era bem chato. Mas que tal oferecer um brinquedo e um livro? Logicamente é preciso fazer uma escolha certa e atrativa.

O acesso à biblioteca é relevante, sem dúvida nenhuma. Ele nem sempre é garantido e quando é, não parece ser algo atrativo. Associá-la à estudo e pesquisa não tem sido positivo para àquele que ainda não leem ou fazem isso de forma bem reduzida. É preciso outro tipo de associação.

Mas em tempos de internet a todo vapor, é preciso começar a pensar que as bibliotecas devem se tornar centros de leitura também on-line. Conteúdos podem ser disponibilizados de forma não física, ferramentas interativas e compartilhadoras podem ser utilizadas também. Por que não ouvir música em um fone, enquanto lê, no prédio da biblioteca de sua cidade? É apenas um exemplo e, obviamente, não estamos falando academicamente aqui.

Enfim, não há mágica, mas é preciso que o contato com os livros aconteça desde cedo e em situações agradáveis. O foco principal é “fazer o indivíduo ler”, mas é possível fomentar a literatura, ainda que o prazer pela leitura não tenha sido plenamente encontrado. Utilizar-se da mídia, da internet para divulgar vídeos, entrevistas, músicas, chats interativos com grandes escritores, festivais, games, cinema, etc.

As políticas também precisam ser concentradas respeitando a cultural regional dos leitores e garantir acesso às atividades culturais a todos os grupos sociais, enfatizando determinadas ações, que devem ser diferentes conforme as necessidades de cada comunidade, evitando assim gastos exorbitantes em um lugar onde a maioria tem grande contato com livros e pouco investimento onde é mais necessário.